Economia

Economistas e políticos lamentam a morte de Celso Pastore

A morte Affonso Celso Pastore, de 84 anos, na manhã desta segunda-feira, 21, comoveu economistas do País. Em depoimentos, eles falam de sua paixão pela economia e pelo trabalho dos banco centrais. “Sempre esteve à frente do seu tempo, desde os primeiros anos na USP”, diz Ilan Goldfajn, do BID. Confira os depoimentos:

Ilan Goldfajn, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

“Estou muito triste com a morte de Afonso Celso Pastore. Ele foi um grande amigo, inspirador e parceiro. Foi o maior expoente e promotor do foco na ciência para a análise de políticas econômicas. Sempre esteve à frente do seu tempo, desde os primeiros anos na USP (Universidade de São Paulo), passando por sua larga e profícua carreira até quando tive a honra de, com ele e outros colegas, criar o Centro de Debate de Política Públicas (CDPP)”

Roberto Campos Neto, presidente do BC

”É uma enorme perda. Era uma pessoa muito querida e muito comentada no âmbito dos banqueiros centrais. O Pastore sempre foi uma pessoa que defendeu o Banco Central. Uma vez o encontrei em um avião e ele disse que, sempre que houvesse algum evento no BC, poderíamos convidá-lo. Ele dizia que era apaixonado pelo BC e que sempre iria defender as causas da instituição. Sentirei muita falta do Pastore e mando condolências a todos os familiares e amigos”

Samuel Pessoa, economista

“A regra de Taylor, criada pelo economista John Taylor e que estabeleceu a relação entre inflação e taxa de juros, por pouco não foi a ‘regra de Pastore’. Ele publicou um trabalho, anos antes de Taylor, no qual descrevia a estabilização de preços numa economia via taxa de juros – numa época em que a governança para moedas baseadas no padrão fiduciário, em oposição ao padrão ouro, era desconhecida. Se a equação que ele derivou tivesse dado um passo a mais, ele chegaria à regra de Taylor. Isso mostra como ele, aqui, na periferia do conhecimento, dialogava de igual para igual na literatura, sempre na fronteira, com a pesquisa mais avançada que existia. Pastore foi, ao lado de Carlos Langoni (ex-presidente do Banco Central, morto em 2021), o pesquisador que tem a melhor e a mais consistente produção de economia aplicada brasileira em sua geração. Além do estudo sobre política monetária, Pastore também deu outra grande contribuição à teoria econômica, debruçando-se sobre dados ligados à agricultura. Pastore era um pesquisador empírico, sem muita paciência para teoria. Também uma pessoa pragmática, que entendeu que, mesmo numa ditadura, poderia ajudar o Brasil trabalhando no governo. Ele era um democrata que percebeu que, dadas as circunstâncias, o melhor que ele poderia fazer era servir o País porque, de forma discreta, ele era muito nacionalista.”

Matéria reproduzida do Estadão, 21/02/24

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