Entenda de que maneira aparelhos eletrônicos associam-se negativamente ao desenvolvimento e veja modos de combater esse fenômeno.

O mundo hoje é cada vez mais tecnológico, mudanças em diversas áreas da vida são marcadas pelo avanço das mídias eletrônicas. Esse fato intensificou-se ainda mais durante o período da pandemia do coronavírus, quando, para contornar os desafios enfrentados na época, as mídias sociais foram utilizadas de forma efetiva e praticamente exclusiva de contato social, incluindo aulas e trabalhos que aconteceram remotamente. Com isso, as telas têm sido introduzidas cada vez mais cedo e com maior intensidade na vida dos indivíduos, acarretando preocupação com relação ao impacto desse fenômeno no desenvolvimento infantojuvenil.

Impacto no Desenvolvimento infantil

O manejo da fase infantil é imprescindível para um crescimento saudável. Essa etapa é marcada por mudanças significativas no desenvolvimento cerebral, biológico e psicossocial, os quais são essenciais para o avanço de habilidades motoras, socioafetivas e mentais das crianças. O desenvolvimento dos principais marcos sensoriais, motores e cognitivos, por exemplo, ocorre até o segundo ano de vida, e nesse período muitas já têm contato com telas. Ademais, com o avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), surge uma ameaça a essa maturação biopsicossocial na forma do aumento expressivo da conectividade digital por crianças.

Riscos Associados ao Uso de Telas

Especialistas apontam que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos se associa a um maior risco de problemas cognitivos, emocionais e comportamentais. Isso pode prejudicar capacidades como a concentração, atenção e memória, além de dificultar a regulação emocional e o funcionamento social. A longo prazo, existe a possibilidade de a saúde física ser afetada, assim como o desenvolvimento de transtornos mentais, incluindo uma maior probabilidade do abuso de substâncias. Além disso, distúrbios de aprendizagem decorrentes dessa maior dificuldade na concentração, atenção e memória se mostram presentes em pesquisas que indicam a queda no desempenho escolar em função das aulas online durante o isolamento social causado pela pandemia em muitas crianças. O prejuízo no contexto social pode ser diretamente ligado ao comprometimento linguístico, uma vez que a interação com outras pessoas é de extrema importância na aquisição dessa habilidade. Ademais, um estudo realizado no Japão relacionou essa exposição excessiva no primeiro ano de vida com diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) aos três anos.

Efeitos na Interação Familiar

O aumento do uso de telas por crianças e adolescentes relaciona-se diretamente à diminuição da interação familiar e de brincadeiras offline. Em algumas famílias, os dispositivos eletrônicos passam a servir como substitutos dos “cuidadores”, limitando as relações afetivas e emocionais e seu desenvolvimento. O uso frequente também pode ser entendido enquanto muitos pais veem as TICs como uma adição positiva à vida da criança.

Quais os sinais de alerta?

É importante que os responsáveis fiquem atentos aos sinais de alerta que as crianças dependentes de tecnologia apresentam. Mudanças de comportamento podem se manifestar na forma de maior ansiedade (causada pelo fato da criança “desaprender” a esperar), na dificuldade de lidar com frustração, no desinteresse por outras atividades, dificuldades na socialização ou até ataques de raiva e aumento da irritabilidade. Na saúde física, pode haver sequelas no sono, problemas na visão, na audição, na postura, dores musculares, subalimentação e sedentarismo. Na saúde mental, além da maior ansiedade, o uso excessivo de telas se relaciona à depressão, ideação suicida, transtornos de humor e ao vício propriamente dito, que pode ser identificado quando as crianças demonstram sintomas de abstinência por não terem acesso a algum dispositivo eletrônico.

Como combater esse fenômeno?

O Manual de Orientação, feito pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e atualizado em 2021, destaca a promoção do uso ético e seguro da internet pelas crianças através da mediação parental e da alfabetização midiática. Recomenda-se ações interdisciplinares e intersetoriais envolvendo as TICs, através de campanhas e intervenções direcionadas ao público interessado, incluindo empresas de tecnologia, visando esclarecer e aprofundar a compreensão sobre a intenção real dos conteúdos consumidos por jovens nas redes.

Além disso, as recomendações para o uso de telas são:

  • 0 a 2 anos: nenhuma exposição, nem mesmo passivamente;
  • 2 a 5 anos: no máximo uma hora por dia, com supervisão dos responsáveis;
  • 6 a 10 anos: no máximo duas horas por dia, com supervisão dos responsáveis;
  • 10 a 18 anos: no máximo três horas por dia, não permitir que passe a madrugada jogando ou utilizando algum eletrônico.

Para os pais e/ou responsáveis, destaca-se a importância da monitoração do que o jovem está fazendo e, se for o caso, com quem ele está conversando, além de estabelecer regras saudáveis para o uso dos dispositivos eletrônicos e recorrer a senhas e filtragem, quando necessário. Quanto as empresas de TICs é importante a identificação e remoção de conteúdos problemáticos de suas plataformas. No que diz respeito ao governo, leis já existem que regulam o uso das tecnologias, protegendo a ética e a segurança da utilização, devendo ser disseminadas por meio de campanhas. Com essas medidas, espera-se mitigar os impactos negativos do uso excessivo de telas no desenvolvimento infantojuvenil, promovendo um equilíbrio saudável entre o mundo online e offline.

Imagem de destaque: Freepik

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