Saúde

Aumento de Diagnósticos de TDAH Pressiona o Sistema de Saúde: O Que Está Acontecendo?


O aumento de diagnósticos de TDAH sobrecarrega o NHS, com listas de espera crescentes e novos tratamentos à vista. Entenda o que está por trás desse fenômeno.


O número de pessoas tomando medicamentos para tratar o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) está em um patamar recorde, e o Sistema Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido está lutando para acompanhar a demanda crescente de diagnósticos e tratamentos.

Desde 2015, a quantidade de pacientes na Inglaterra que recebem prescrição de medicamentos para TDAH quase triplicou. Segundo uma pesquisa da BBC, seriam necessários oito anos para que todos os adultos nas listas de espera fossem avaliados. No ano passado, o TDAH foi a segunda condição mais pesquisada no site do NHS, o que levou à criação de uma força-tarefa para lidar com a demanda crescente.

A questão que surge é: por que há tantos novos diagnósticos de TDAH? O transtorno está se tornando mais comum, estamos melhorando na sua identificação ou estamos exagerando no diagnóstico? Até mesmo os especialistas foram pegos de surpresa.

De acordo com o Dr. Ulrich Müller-Sedgwick, do Royal College of Psychiatrists, o aumento na procura foi inesperado. “Ninguém previu que a demanda aumentaria tanto nos últimos 15 anos, especialmente nos últimos três anos”, afirma o psiquiatra, que trabalha com clínicas especializadas desde 2007.

Embora o TDAH seja uma condição relativamente nova – foi oficialmente reconhecido pelo Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE) em adultos há apenas 16 anos – a prevalência da doença, ou seja, o percentual de pessoas que a possuem, deve se manter estável em 3 a 4% dos adultos no Reino Unido, segundo Müller-Sedgwick. No entanto, o número de novos casos, conhecido como incidência, está em alta. “O que mudou é o número de pacientes que estamos diagnosticando”, explica o médico. “É como se quanto mais diagnosticamos, mais a palavra se espalha.”

Professora Emily Simonoff, psiquiatra infantil do King’s Maudsley Partnership for Children and Young People, corrobora essa visão, destacando que entre 5 a 7% das crianças no Reino Unido têm TDAH, uma estatística consistente globalmente. Ela também observa que a demanda por avaliações aumentou significativamente após a pandemia, mas que isso reflete anos de subdiagnóstico da condição.

Simonoff ainda menciona que, apesar de 3 a 4% das crianças no Reino Unido precisarem de medicamentos para TDAH, apenas 1 a 2% de fato os utilizam, o que aponta para um problema de subtratamento. “Temos subdiagnosticado ou sub-reconhecido o TDAH no Reino Unido por muitos anos”, afirma, explicando que o aumento atual nos diagnósticos pode ser parte de um esforço para compensar essa negligência histórica.

Thea Stein, diretora executiva do Nuffield Trust, usa o termo “a curva” para descrever o recente aumento na demanda. Segundo ela, esse aumento é resultado de maior conscientização e visibilidade da condição. Para Stein, o principal desafio agora é lidar com a lista de espera para diagnóstico de TDAH. No futuro, ela espera que o TDAH seja identificado mais cedo nas crianças, aliviando a pressão sobre os serviços destinados aos adultos.

Embora o TDAH pareça ser um conceito novo, a dificuldade em manter a atenção não é uma questão recente. Em 1798, o médico escocês Sir Alexander Crichton escreveu sobre uma “doença da atenção”, caracterizada por uma inquietação mental anormal. No entanto, o TDAH vai além da dificuldade de concentração ou hiperatividade; ele também afeta a regulação das emoções e impulsos, sendo associado a problemas como abuso de substâncias, dificuldades financeiras e taxas mais altas de criminalidade e acidentes de carro.

Os especialistas concordam que diagnosticar e tratar o TDAH o mais cedo possível é fundamental para evitar consequências graves. Dr. Müller-Sedgwick destaca que o diagnóstico pode transformar vidas, permitindo que pacientes retomem seus estudos, carreiras e até suas funções parentais. “É por isso que trabalhamos nessa área, é uma parte muito gratificante da saúde mental”, diz.

Além dos tratamentos convencionais, que envolvem medicação e terapia, novas abordagens estão surgindo. Nos Estados Unidos, um dispositivo para tratar o TDAH que envia pulsos estimulantes ao cérebro enquanto a criança dorme já está disponível. No entanto, ele ainda não está disponível no Reino Unido, onde acadêmicos estão conduzindo estudos sobre sua eficácia.

A professora Katya Rubia, especialista em neurociência cognitiva no King’s College London, investiga há mais de 30 anos as diferenças nos cérebros de pessoas com TDAH. Ela aponta que áreas como o lobo frontal são menores e menos ativas nesses pacientes. Atualmente, Rubia lidera um estudo que explora a estimulação do nervo trigêmeo, que pode aumentar a atividade cerebral nessas regiões. “Se tudo correr bem, poderemos ter um novo tratamento em dois anos”, afirma a professora.

Enquanto essas novas opções de tratamento não chegam ao mercado, o grande desafio é lidar com o acúmulo de pacientes aguardando diagnóstico, com a expectativa de que o número de novos casos comece a diminuir ao longo do tempo.


Texto adaptado de BBC

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