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Declarações de Lula Sobre a Venezuela Dão Sinais de Reaproximação entre Brasil e Caracas


Após elogio de Maduro às declarações de Lula sobre não interferência em assuntos internos da Venezuela, relações diplomáticas entre Brasil e Caracas apresentam sinal de descompressão.


O presidente venezuelano Nicolás Maduro elogiou nesta segunda-feira (11) as declarações do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a importância de respeitar as instituições de cada país. Lula havia afirmado no domingo (10) que não se sentia no direito de questionar decisões da Suprema Corte de outras nações, evitando assim que futuras críticas recaiam sobre o Brasil. Maduro considerou a postura do brasileiro “uma reflexão sábia” e destacou: “Ponto a favor de Lula”.

“Estou de acordo com Lula. Cada país precisa encontrar sua forma de resolver seus próprios conflitos e problemas, respeitando sua soberania”, declarou Maduro em seu programa semanal, Con Maduro +, acrescentando que o Brasil e a Venezuela possuem dinâmicas nacionais próprias e autônomas.

Em sua fala, Lula ainda relembrou sua experiência pessoal, mencionando a polêmica decisão judicial que o impediu de se candidatar em 2018. O presidente brasileiro reafirmou que cada líder deve cuidar das questões de seu país e que não cabe ao Brasil interferir em nações como Venezuela ou Nicarágua. “O Maduro é um problema da Venezuela, não do Brasil. Desejo que a Venezuela prospere, mas vou focar no Brasil”, afirmou Lula, defendendo uma postura de não confrontação com vizinhos.

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A posição de Lula também foi bem recebida pelo ministro venezuelano Diosdado Cabello, que celebrou a atitude do brasileiro. “Nunca é tarde para reconhecer que cada país deve resolver seus próprios assuntos internos”, disse Cabello, enfatizando a importância desse posicionamento para a região. Ele completou que a Venezuela respeitará as decisões internas de todos os países, incluindo os Estados Unidos, apesar das sanções impostas contra Caracas.

Histórico de Tensão e Tentativas de Mediação

A relação entre Brasil e Venezuela sofreu abalos durante a corrida eleitoral venezuelana. Inicialmente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil planejava enviar observadores ao pleito, mas recuou após declarações de Maduro questionando a auditoria das urnas brasileiras. Como alternativa, o assessor especial brasileiro, Celso Amorim, foi enviado a Caracas.

O resultado das eleições, que deu a Maduro 51,97% dos votos contra 43,18% do opositor Edmundo González Urrutia, foi contestado pela oposição venezuelana, que alega possuir cópias das atas eleitorais comprovando a vitória de Urrutia. Alegações de ataque hacker contra o sistema eleitoral geraram uma investigação por parte do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela, que recolheu materiais e ouviu nove dos dez candidatos – exceto Urrutia, que não compareceu.

Brasil, Colômbia e México emitiram notas conjuntas solicitando transparência na publicação das atas eleitorais, reivindicação que ainda não foi atendida. A validação da vitória de Maduro pelo TSJ ocorreu, mas, três meses após o pleito, os dados detalhados permanecem sem divulgação, e o site do órgão eleitoral está inativo.

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Veto Brasileiro no BRICS e Reações Venezuelanas

Durante a cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia, em outubro, a Venezuela aguardava ser aceita como “Estado parceiro” do grupo, mas foi excluída devido a um veto do Brasil, decisão que gerou frustração em Caracas. O motivo do veto não foi explicado publicamente; Amorim afirmou apenas que a Venezuela não cumpria certos critérios de influência regional.

Em resposta, o governo venezuelano chamou de volta seu embaixador no Brasil para consultas, e também convocou o encarregado de negócios brasileiro em Caracas, manifestando seu descontentamento com o que chamou de “declarações intervencionistas” de Amorim. Segundo Caracas, o veto e as declarações refletem interferências externas na política venezuelana.

A recente declaração de Lula, entretanto, marca uma tentativa de reduzir o clima de animosidade entre os dois países, indicando uma postura de respeito mútuo e não interferência, o que poderá colaborar para uma nova fase nas relações diplomáticas.

Texto adaptado de Brasil de Fato e revisado pela nossa redação.

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