O avanço da tecnologia chinesa e os riscos ocultos para usuários e empresas ocidentais
Da redação do Movimento PB
A chegada do DeepSeek, modelo chinês de inteligência artificial, sacudiu o mercado global de tecnologia. Com promessas de desempenho comparável a gigantes como OpenAI e Google, e um custo significativamente menor, a ferramenta se tornou um sucesso imediato. No entanto, por trás da euforia, especialistas em segurança e privacidade alertam para riscos sérios: coleta massiva de dados, armazenamento em servidores chineses e falta de transparência nas políticas de uso.
Ao contrário de modelos como ChatGPT e Gemini, o DeepSeek retém informações por tempo indeterminado e rastreia até mesmo o ritmo de digitação dos usuários — um dado classificado como biométrico em algumas legislações, como a da Califórnia. A ferramenta também não cumpre exigências básicas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) do Brasil, incluindo o direito de oposição ao compartilhamento de dados e a possibilidade de exclusão definitiva das informações armazenadas.
Coleta massiva de dados e ausência de garantias
A política de privacidade da DeepSeek, disponível apenas em inglês e chinês, informa que a plataforma coleta uma ampla gama de informações:
- Nome, data de nascimento, telefone e endereço de e-mail;
- Modelo do dispositivo e sistema operacional;
- Endereço de IP e localização aproximada;
- Histórico de conversas e arquivos enviados;
- Padrões e ritmo de digitação.
Esses dados são armazenados em servidores na China e podem ser compartilhados com terceiros, incluindo anunciantes e autoridades do governo. Diferente de plataformas ocidentais que estão sob pressão regulatória para oferecer mais controle ao usuário, o DeepSeek não fornece meios claros para que os dados sejam apagados ou seu uso recusado.
De acordo com a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), transferências internacionais de informações exigem garantias mínimas de segurança e consentimento explícito dos usuários — algo que a DeepSeek não oferece.
Impacto no mercado e riscos geopolíticos
O rápido crescimento da IA chinesa abalou Wall Street. Grandes empresas do setor, como OpenAI, Google e Nvidia, viram suas ações despencarem em meio ao temor de uma concorrência agressiva. O modelo da DeepSeek opera com menos poder computacional e custos reduzidos, tornando-se altamente acessível.
Mas sua ascensão também levanta questões de segurança nacional. Nos EUA, políticos e analistas compararam a ameaça do DeepSeek ao TikTok, que enfrenta restrições e até tentativas de banimento devido ao potencial de espionagem e controle de dados por Pequim. A Itália foi o primeiro país a bloquear o aplicativo, enquanto outros governos avaliam medidas para conter sua expansão.
Na China, a IA já apresenta comportamentos alinhados às diretrizes do Partido Comunista: evita responder a questões sensíveis sobre direitos humanos, protestos e críticas ao governo. Esse viés embutido levanta preocupações sobre sua utilização em larga escala fora do país, influenciando o fluxo de informações globais.
A fragilidade da privacidade digital
Para Luca Belli, professor e pesquisador da FGV Direito Rio, o problema da DeepSeek não é isolado. Ele ressalta que práticas invasivas de coleta de dados já são comuns na indústria de IA, mas que a falta de transparência da empresa chinesa agrava ainda mais a situação.
“O ChatGPT, por exemplo, demorou mais de um ano para traduzir sua política de privacidade para o português e meses para criar um botão de ‘opt out’. Mas, pelo menos, há um esforço de adequação. No caso da DeepSeek, sequer há uma preocupação em se alinhar à legislação brasileira”, afirma Belli.
A advogada Nuria López, especialista em direito digital, destaca que o rastreamento do ritmo de digitação é um ponto crítico. “Trata-se de um dado biométrico que pode ser usado para identificação de usuários sem que eles saibam. Isso, aliado ao armazenamento prolongado das informações, torna o DeepSeek um risco significativo à privacidade.”
Conclusão: entre a inovação e o perigo
O DeepSeek se apresenta como uma alternativa potente e acessível às IAs ocidentais, mas sua chegada não vem sem custos. A falta de transparência, o desrespeito a regulações internacionais de privacidade e sua possível instrumentalização geopolítica transformam essa IA em uma ameaça que vai além do mercado de tecnologia.
Com governos e especialistas atentos ao problema, a questão que fica é: até que ponto vale a pena trocar segurança e privacidade por conveniência e baixo custo?
Fontes Consultadas:
- DeepSeek envia dados à China, retém informações por tempo indeterminado e rastreia até ritmo de digitação – O Globo
- Efeito DeepSeek: Veja quanto os bilionários das Big Techs perderam no mercado de ações – Época Negócios
- DeepSeek: Entenda o impacto da nova startup chinesa no mercado – Space Money
- DeepSeek AI: China, Privacidade e Coleta de Dados – WIRED