O deputado estadual Wallber Virgolino (PL) provocou um debate ao sugerir, em tom irônico, que câmeras corporais, como as utilizadas por policiais em diversas regiões do Brasil, fossem também adotadas por políticos e até por integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). A ideia de uso de câmeras corporais por parlamentares pode parecer inusitada, mas levanta questões importantes.
Durante entrevista ao Portal da Capital nesta terça-feira (10), o parlamentar justificou sua sugestão como uma forma de ampliar a transparência pública. “Por que não estender [o uso de câmeras corporais] aos integrantes do STF, ao presidente da República, aos chefes dos poderes? Querem marginalizar os policiais, mas transparência tem que valer para todos”, afirmou.
A experiência policial de Virgolino
Ex-delegado, Virgolino usou sua experiência na segurança pública para defender os policiais diante das críticas ao uso de câmeras corporais na atividade policial. Ele destacou que situações de rua exigem decisões rápidas e nem sempre há espaço para ponderar sobre legalidades. “A atividade policial é uma atividade em que você tem que pensar rápido. Quem tá na rua, às vezes não tem tempo de tá vendo legalidade. A abordagem policial é uma abordagem dura. A gente vai pra cima achando que ele [um traficante] vai reagir”, declarou, reforçando seu ponto irônico sobre estender o uso de câmeras corporais por parlamentares.
Tárcio Teixeira rebate a ideia de uso de câmeras corporais por parlamentares
A proposta de Virgolino recebeu uma resposta contundente de Tárcio Teixeira, vice-presidente da Federação PSOL REDE e assistente social, conhecido por sua postura crítica. Tárcio sugeriu que o deputado poderia começar pelo exemplo. “Não precisa de lei, basta colocar a câmera no peito e transmitir 24 horas por dia. Assim saberíamos quem é a verdadeira base de seus votos e como articula no submundo da política”, afirmou, claramente sarcástico sobre o uso de câmeras corporais por parlamentares.
Além disso, Tárcio aproveitou para ironizar comentários feitos pelo vereador pessoense Tarcísio Jardim (PP), que alegou que policiais já atuam com medo por conta do uso de câmeras corporais. “Se agindo com medo a Polícia brasileira já é uma das mais violentas do mundo, imagina se agissem como os espinhos de Jardim?”, disse Tárcio, antes de destacar os números alarmantes de mortes causadas por policiais em 2023: 6.393 pessoas. Ele também ressaltou que câmeras de rua e de populares têm mostrado diversos casos de abuso de poder.
Transparência ou distopia?
A ideia de Virgolino, mesmo carregada de ironia, levanta um debate sobre os limites da transparência no setor público. Para quem leu 1984, de George Orwell, a imagem de políticos monitorados 24 horas por câmeras remete à figura do “Big Brother”. Mas, diferentemente da obra distópica, aqui a vigilância serviria, segundo seus defensores, para fiscalizar o comportamento dos próprios representantes públicos, promovendo a transparência com o uso de câmeras corporais por parlamentares.
Será que um “Grande Irmão político” aumentaria a confiança da sociedade ou acabaria apenas expondo a política brasileira ao ridículo? A resposta, como em 1984, depende de quem controla as câmeras — e por quê.
Redação com informações publicadas nos vídeos do Portal da Capital