Inspirado por ficções como “Blade Runner”, estudo sugere credenciais digitais para distinguir humanos de IA, enfrentando desafios éticos e de privacidade.
O que antes parecia pura ficção científica pode estar mais perto da realidade do que imaginamos. Assim como no icônico filme “Blade Runner”, onde testes são aplicados para distinguir humanos de replicantes, um grupo de 32 pesquisadores propôs um sistema de “credenciais de personalidade” para enfrentar o avanço da inteligência artificial (IA). A ideia é garantir que, em um futuro próximo, seremos capazes de identificar de forma confiável quem é humano e quem é robô na internet.
O estudo, publicado online na semana passada por especialistas da OpenAI, Microsoft e Harvard, alerta que os métodos atuais de verificação de identidade estão se tornando cada vez mais obsoletos diante de IAs sofisticadas. Assim como os replicantes em “Blade Runner” que se misturam à sociedade humana, bots de IA podem em breve simular perfeitamente interações humanas, tornando as soluções atuais como Captchas e selfies insuficientes para distinguir pessoas reais de máquinas.
No filme Blade Runner o teste Voigt-Kampff mede reações emocionais para diferenciar humanos de replicantes, avaliando empatia por meio de respostas fisiológicas a perguntas provocativas.
No filme de Ridley Scott, inspirado no romance de Philip K. Dick “Do Androids Dream of Electric Sheep?”, a humanidade recorre a testes de empatia e emoção para diferenciar humanos de robôs. Hoje, a proposta dos pesquisadores é que as pessoas comprovem sua existência no mundo físico, recebendo uma credencial criptografada que permita acessar serviços online sem comprometer a privacidade.
O Futuro da Verificação
O conceito de usar tecnologia avançada para provar a humanidade não é inteiramente novo. Startups como a Worldcoin, criada pelo CEO da OpenAI, Sam Altman, já estão experimentando com ideias semelhantes. No caso da Worldcoin, as pessoas têm suas íris escaneadas em troca de um passaporte digital, que confirma sua identidade humana e permite o acesso a criptomoedas. A proposta também busca soluções para um futuro onde empregos podem se tornar escassos devido à automação.
Entretanto, assim como no universo distópico de “Blade Runner”, surgem questionamentos éticos. Governos têm investigado e, em alguns casos, proibido essas iniciativas por preocupações com a exploração de comunidades vulneráveis e o uso inadequado dos dados coletados.
O estudo dos pesquisadores da OpenAI e de outras instituições ressalta que não endossa sistemas específicos, como o Worldcoin, mas defende a criação de múltiplos sistemas de verificação, garantindo que nenhuma entidade tenha controle absoluto sobre os dados das pessoas.
A Realidade Imita a Ficção
Enquanto no filme de 1982 a sociedade vive com medo de replicantes que se passam por humanos, hoje enfrentamos desafios semelhantes. Segundo os pesquisadores, em um futuro próximo, nem mesmo uma videochamada será suficiente para garantir que a pessoa do outro lado é quem diz ser. O avanço das IAs pode criar simulações tão realistas que até mesmo conversas online poderão ser dominadas por robôs que imitam perfeitamente o comportamento humano.
Alguns especialistas, como o professor James Boyle, da Duke University, reconhecem o valor de um sistema de credenciais de personalidade. Boyle destaca que, se bem implementado, “poderia ser extremamente útil”, mas também alerta para o risco de “coleta maciça de dados”, comparando o sistema proposto a uma faca de dois gumes.
Quem é Responsável?
Ainda que a proposta tenha gerado interesse, críticos argumentam que o ônus não deveria recair sobre os indivíduos para provar sua humanidade. Em vez disso, Chris Gilliard, pesquisador de privacidade, defende que as empresas de IA deveriam ser responsáveis por impedir que seus bots se passem por humanos. Para Gilliard, a sociedade não deve pagar o preço pela proliferação de chatbots e modelos de linguagem que estão sendo integrados em diversas plataformas.
Assim como no mundo de “Blade Runner”, onde a linha entre o humano e o robô se torna cada vez mais tênue, o futuro da internet e das interações digitais dependerá da nossa capacidade de criar barreiras seguras e éticas para garantir que a humanidade continue sendo única.