Internacional

Bolívia firma acordo com empresa chinesa para construção de fábricas de lítio

Medida do governo boliviano afeta os interesses dos EUA, preocupados com a competição de China e Rússia na região

A Bolívia assinou, nesta terça-feira (26), um contrato com a empresa chinesa Hong Kong CBC Investment, que prevê a construção de duas fábricas de produção de carbonato de lítio, com um investimento de R$ 5,98 bilhões. O presidente boliviano, Luis Arce, destacou durante a cerimônia de assinatura que o país se tornará um “ator importantíssimo na determinação do preço internacional do lítio”.

As fábricas serão instaladas no Salar de Uyuni, uma das maiores reservas de lítio do mundo, no sudoeste da Bolívia. Uma das unidades terá capacidade para produzir 10 mil toneladas de carbonato de lítio por ano, enquanto a outra terá uma produção anual de 25 mil toneladas. O contrato foi firmado pela estatal Yacimientos de Litio Bolivianos (YLB).

Essa decisão impacta diretamente os interesses dos Estados Unidos, que têm tentado controlar a produção de lítio na Bolívia, temendo a concorrência de China e Rússia na região. Em março de 2023, a chefe do Comando Sul dos EUA, Laura Richardson, afirmou que o “triângulo do lítio” é tratado como uma questão de “segurança nacional”, abordando a situação durante uma conferência da Câmara dos Representantes.

O lítio é considerado essencial na fabricação de baterias de alto desempenho para veículos elétricos. Empresas como a Tesla, de Elon Musk, que fabrica carros elétricos, são grandes consumidoras deste mineral. Em 2020, Musk afirmou: “Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”, fazendo referência ao golpe de Estado de 2019 que derrubou o então presidente Evo Morales.

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O governo de Luis Arce tem adotado uma postura de manter o lítio sob controle estatal, com a criação da Lei 928, que garante a soberania nacional na produção do mineral e a participação integral da YLB em todas as etapas da exploração. Além disso, foi implementada a tecnologia de Extração Direta de Lítio (EDL), que é menos poluente e consome menos água na extração do lítio bruto.

A China tem se mostrado um parceiro estratégico para a Bolívia, com a empresa Hong Kong CBC Investment sendo uma subsidiária da CATL, a maior fabricante de baterias de lítio do mundo. O lítio, conhecido como “ouro branco”, é um mineral essencial na transição para energias mais limpas, sendo crucial na produção de baterias para carros elétricos e celulares.

Este contrato com a China é o segundo assinado pela YLB este ano. O primeiro, realizado em setembro, foi com o grupo russo Uranium One Group, que investirá US$ 970 milhões (R$ 5,62 bilhões) na construção de uma fábrica com capacidade para produzir 14 mil toneladas de carbonato de lítio por ano.

Ambos os acordos ainda dependem da aprovação da Assembleia Legislativa, um processo que ainda não tem prazo definido e que pode ser dificultado pela fragmentação da base governista. O presidente Arce expressou preocupação com os atrasos e pediu agilidade na aprovação dos contratos. “Exigimos aos deputados que acelerem o tratamento e aprovação… Esperamos que parem de bloquear o governo nacional e o povo boliviano”, reclamou.

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Arce também revelou que estão em andamento as negociações para um terceiro contrato com a estatal chinesa Citic. “Esperamos que em breve possamos fechar esse contrato”, afirmou.

Texto adaptado de AFP e revisado pela nossa redação

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