Pela segunda vez na mesma semana, aeronaves estratégicas dos Estados Unidos decolaram da Noruega para avaliar as capacidades defensivas da Rússia no Círculo Polar Ártico, uma área de crescente atrito entre as potências nucleares.
Como ocorreu no domingo (24), nesta terça-feira (26), um caça MiG-31 foi despachado na região de Murmansk para interceptar dois bombardeiros B-1B operando a partir da base de Kallax, no norte da Noruega. Os aviões americanos realizaram uma manobra sobre o mar de Barents, sem adentrar o espaço aéreo russo.
A missão dos bombardeiros, nos dois dias, contou com o apoio de três aviões-tanque e uma aeronave de comunicações e espionagem. Essas operações seguem o término do exercício Nordic Response 2024, realizado pela Otan, que reuniu 20 mil soldados na Noruega.
A região do norte europeu e do Ártico se tornaram pontos críticos na disputa geopolítica entre Washington e Moscou. A entrada da Finlândia e da Suécia na Otan, motivada pela invasão russa da Ucrânia em 2022, desencadeou uma militarização na área.
Embora interceptações sejam comuns em áreas tensas como o mar do Sul da China ou o mar Negro, duas ocorrências consecutivas indicam um padrão de teste e reforçam a posição dos EUA de proteger o flanco norte da Otan. Desde que a Finlândia ingressou na aliança, dobrando a fronteira com a Rússia, Moscou tem feito ameaças periódicas ao país nórdico, incluindo o posicionamento de tropas e armamentos na região.
Os bombardeiros B-1B foram concebidos durante a Guerra Fria para missões de penetração supersônica e ataques nucleares contra alvos da antiga União Soviética. Após o colapso do bloco comunista em 1991, foram progressivamente adaptados para operações convencionais.
Atualmente, os principais modelos para ataques nucleares dos EUA são os bombardeiros B-2 e B-52, além dos caças F-16, que podem lançar pequenas armas táticas contra alvos militares menores. O avançado F-35 também está sendo preparado para desempenhar essa função.
A região do Círculo Polar Ártico é estratégica para a Rússia, que mantém a maior parte de sua frota de submarinos estratégicos, responsáveis pelo lançamento de mísseis nucleares, baseada em Murmansk. Além disso, os campos de gás na área de Iamal são uma fonte crucial de gás natural liquefeito, que a Rússia passou a exportar em grande escala devido aos embargos europeus em outras formas de energia.
Com o aumento do degelo no Ártico, devido às mudanças climáticas, a Rússia tem se beneficiado da abertura de rotas marítimas mais curtas para a China, além da intensificação da exploração mineral na região.
Desde 2021, os EUA têm realizado pousos regulares de bombardeiros na Noruega, uma mudança significativa na política anterior que evitava provocar a Rússia. Essas operações destacam a crescente importância estratégica do Ártico e a determinação dos EUA em manter uma presença ativa na região.
Fonte: Adaptado de notícia original da Folha de S.Paulo