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Brasil – um pequeno quadro demográfico

Imagem: reprodução

Rômulo Neves para o MovimentoPB.

Grandes cidades perderam população entre 2010 e 2022, quando o Brasil cresceu muito menos do que o esperado.

Seis das dez maiores cidades do país perderam população entre 2010 e 2022. O caso de Salvador é o mais emblemático, com uma queda de 9,6%, mas a lista inclui quedas de 5,5% em Porto Alegre, 3,1% em Recife, 2,5% em Belo Horizonte e 1,7% no Rio de Janeiro. Fortaleza também perdeu população, mas apenas 1%.

Por outro lado, algumas das grandes cidades brasileiras – entre as 10 maiores – que cresceram, cresceram aceleradamente, como é o caso de Manaus, com 14,5% de aumento no período, e Brasília, com 9,6% de aumento. Goiânia, com 10,3% de crescimento no período entrou na lista das 10 maiores cidades brasileiras, superando Porto Alegre, em queda. São Paulo cresceu 1,8% e Curitiba, cresceu 1%.

Nesse período, a população brasileira cresceu apenas 6,5% e atingiu 203 milhões de pessoas. Muito abaixo do que apontavam as estimativas, que previam uma população entre 212 e 218 milhões em 2022. Nesse período, a população brasileira foi ultrapassada pelas populações do Paquistão e, mais recentemente, da Nigéria. O freio no crescimento populacional do Brasil veio antes do que se estimava e numa velocidade bastante alta. As estimativas iniciais apontavam que a população do Brasil pararia de crescer entre 2050 e 2060, mas, com esses novos dados, é possível que no próximo Censo, já se observe um crescimento próximo de 1% ou mesmo estagnação. Já não é absurdo pensar em diminuição populacional a partir de 2040.

Mesmo com as estimativas atuais, a população do Brasil já será ultrapassada em 2080 pela soma das populações de Moçambique e Angola. Geopoliticamente, isso significa que haverá mais falantes de português na África do que no Brasil. Isso pode, inclusive, ocorrer antes dessa marca. A África é o único continente que seguirá crescendo pelo menos até 2100 e a população de países como Nigéria e Congo estarão em pé de igualdade com a população da China (que, por sua vez, passará a diminuir em breve).

Essas projeções foram produzidas com base no crescimento observado entre os anos de 2000 e 2010, quando o país cresceu 12,4%, passando de 170 para 190 milhões de habitantes. Essas estimativas, aliás, ainda não foram corrigidas e, em vários apontamentos, você poderá ver estimativas para 2024 que certamente não condizem com a realidade observada no Censo.

As duas megalópoles brasileiras – São Paulo e Rio de Janeiro – caminham, demograficamente, no sentido inverso. Enquanto São Paulo e as cidades de seu entorno continuam crescendo, a despeito da descentralização da economia (as cidades do interior do estado também seguem crescendo), tanto a capital quanto as maiores cidades da Grande Rio diminuem de tamanho. Além da queda de 1,7% na capital, a população diminui em São Gonçalo (-10,3%), Duque de Caxias (-5,5%), Nova Iguaçu (-1%), Niterói (-1%) e São João do Meriti (-3,9%). Dentre as maiores cidades, apenas Belford Roxo cresceu (3%).

Em São Paulo, todas as grandes cidades da Região Metropolitana registraram crescimento – Guarulhos, com 5,7%, São Bernardo do Campo (5,9%), Santo André (10,6%), Osasco (9,3%), Mogi das Cruzes (16,5%) e Carapicuíba (4%) – Mauá registrou a mesma população. O mesmo ocorreu no interior do estado, onde as maiores cidades registraram crescimento, como Campinas (5,4%), São José dos Campos (10,8%), Ribeirão Preto (15,5%) e Sorocaba, com impressionantes 23,4%. Jundiaí e Piracicaba, dentre outras, também registram crescimento. Apenas Santos e São Vicente estão com as populações estáveis, mas a vizinha Praia Grande cresceu 33% no período, tendo ultrapassado São Vicente e se aproximado da população de Santos.

Das capitais listadas entre as 50 maiores cidades, a que apresentou o maior crescimento foi Florianópolis, com 27,5% de aumento no período, mas muitas outras apresentam queda ou estagnação, como Belém, São Luís e Maceió. Assim como o interior de São Paulo, grandes cidades goianas, mineiras e baianas no interior apresentam crescimento no período – além de Goiânia, com 10,3%, Aparecida de Goiânia, com 15,8% de crescimento, e Anápolis, com 19,1%, despontam em Goiás; em Minas, Uberlândia cresceu 18%, e, na Bahia, Feira de Santana cresceu 10,8%.

A soma da população das dez maiores cidades do Brasil, entretanto, não cresceu nem 1% nos doze anos que separam o Censo de 2010 do levantamento de 2022, indicando uma estagnação que, neste momento, ajuda os governos municipais a planejar os seus gastos, mas, no longo prazo vai começar a se apresentar como um problema, porque se trata de uma tendência nacional.


Rômulo Neves 

@romuloneves

Professor, escritor e diplomata brasileiro, com passagens por Venezuela, Suriname, Etiópia, Paquistão, Alemanha e Moçambique. Publica material sobre Relações Internacionais, Política Internacional, África.

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