Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, defende um “choque fiscal positivo” para sustentar juros mais baixos e alerta sobre os riscos de inflação sem equilíbrio fiscal.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (1º/10) que o Brasil precisará de um “choque fiscal positivo” para garantir a redução dos juros de forma sustentável. Durante um evento em São Paulo, organizado pela gestora Crescera Capital, Campos Neto destacou que, sempre que o país conseguiu reduzir a taxa Selic de forma duradoura, isso esteve vinculado a uma percepção favorável do cenário fiscal.
“Acreditamos que, em algum momento, o Brasil precisará de um programa que gere a percepção de um choque fiscal positivo se quiser manter juros mais baixos”, declarou Campos Neto. Ele ainda ressaltou que manter juros “artificialmente baixos” sem um controle adequado das contas públicas resultaria em um aumento da inflação no médio prazo. “Precisamos buscar uma harmonia entre a política fiscal e a política monetária”, acrescentou.
O presidente do Banco Central explicou que a dúvida do mercado em relação à trajetória da dívida pública pode elevar a parte longa da curva de juros, dificultando a permanência de taxas de juros baixas. Segundo ele, “se o mercado desconfia da trajetória da dívida, isso complica a convivência com juros mais baixos”.
Campos Neto também comentou sobre as comparações do Brasil com outros países em termos de endividamento e primários negativos. Segundo ele, a desconfiança do mercado sobre o arcabouço fiscal brasileiro não é exagerada, mas há um excesso na comparação do Brasil com outras nações. “Vários países também enfrentam um cenário fiscal desfavorável, com déficits primários e endividamento”, afirmou.
O banqueiro ressaltou a importância de gerar superavits primários para pagar os gastos relacionados à pandemia da Covid-19, lembrando que essa dificuldade não é exclusiva do Brasil. “Todos precisamos gerar superavits para cobrir os gastos da pandemia, mas isso não acontece em nenhum lugar, não é só aqui”, concluiu Campos Neto.