Imagens de satélite indicam a construção de um sistema de radar avançado em Triton, reforçando a capacidade de vigilância da China na região.
A China está implementando um novo sistema de radar anti-stealth em um recife disputado no Mar do Sul da China, o que poderá ampliar significativamente suas capacidades de vigilância na região, segundo imagens de satélite.
Análises realizadas pela Chatham House indicam que o país está modernizando sua base em Triton, situada no canto sudoeste do arquipélago de Paracel. O novo sistema inclui uma potencial plataforma de lançamento para mísseis anti-navio, além do radar sofisticado.
Michael Dahm, um dos principais pesquisadores do Mitchell Institute for Aerospace Studies, afirmou: “Ao restringir a capacidade dos EUA de operar aeronaves stealth e ameaçar esses aparelhos, essas novas capacidades no Mar do Sul da China enviam uma mensagem forte para os aliados e parceiros dos EUA na região de que as tecnologias avançadas dos EUA podem não conseguir se igualar ao Exército Popular de Libertação (PLA)”.
Radars anti-stealth semelhantes, conhecidos como SIAR (radar de impulso sintético e abertura), já foram construídos ao sul, no recife Subi, na cadeia das Ilhas Spratly, e ao norte, na Ilha de Hainan. A construção em Triton preencherá uma lacuna na cobertura da China. “Triton Island é mais um tijolo na parede”, comentou Dahm, acrescentando que, ao longo de três décadas, a China tem desenvolvido tecnologias para se proteger contra as capacidades stealth avançadas dos EUA.
O recife de Triton, com cerca de 120 hectares, localiza-se no extremo sudoeste do arquipélago de Paracel, que está sob controle da China desde um violento conflito com o Vietnã em 1974. Tanto Taiwan quanto o Vietnã reivindicam a área.
A China alega que grande parte do Mar do Sul da China pertence a ela, apesar de uma decisão de um tribunal internacional que rejeitou seus argumentos. As Filipinas, Vietnã, Malásia, Brunei e Taiwan também têm reivindicações sobre essa importante rota marítima.
Os EUA não são um dos países reclamantes, mas consideram a via comercial crucial para seus interesses nacionais, frequentemente realizando operações de liberdade de navegação na região. Além disso, os EUA têm um tratado de defesa mútua com Manila, comprometendo-se a proteger as Filipinas em caso de ataque no Mar do Sul da China.
Nos últimos dois anos, a China foi repetidamente acusada de comportamento agressivo nas águas do Mar do Sul, com analistas alertando que tais confrontos podem levar a um conflito. Recentemente, o Vietnã acusou a China de agredir dez pescadores vietnamitas e apreender cerca de quatro toneladas de peixes em um incidente próximo às Ilhas Paracel. As ilhas são ricas em recursos pesqueiros, além de conterem reservas de petróleo e gás.
Qualquer atividade de construção em Triton, que está a 135 milhas náuticas a leste do continente vietnamita e a 170 milhas náuticas ao sul de Hainan, preocupa Hanoi. A análise da Chatham House indica que as estruturas de inteligência em Triton poderiam “reduzir significativamente a capacidade do Vietnã de operar de forma não detectada na área”.
“Ao lado dos radares existentes em Triton, que podem detectar embarcações, Pequim agora tem o potencial de rastrear movimentos aéreos vietnamitas e obter alertas prévios sobre manobras de Hanoi na região, incluindo tentativas de acessar depósitos de petróleo e gás”, acrescentou.
O radar também pode complicar as tentativas das marinhas dos EUA, Reino Unido e Austrália de navegar nas águas circundantes. Segundo a Chatham House, há diversos projetos de construção em Triton, incluindo uma grande plataforma ao final de uma rede viária, que pode ser utilizada como ponto de lançamento para uma bateria móvel de mísseis anti-navio. Outra construção, visível nas imagens de satélite, pode ser um local de armazenamento para veículos de transporte de mísseis.
Essas obras marcam um esforço para fortalecer a borda sudoeste das Ilhas Paracel, conforme destacou Dahm. “Triton Island realmente representa o ponto fraco da fortaleza”, observou, acrescentando que a China já construiu capacidades significativas na Ilha Woody e em outros recifes no nordeste do arquipélago.
Texto traduzido e adaptado de Reuters e revisado pela nossa redação.