DeepSeek, IA chinesa, supera concorrentes dos EUA com custo menor, revelando especulação das big techs e abrindo debate sobre regulação.
A inteligência artificial chinesa DeepSeek, apresentada ao mundo em janeiro deste ano, tem se destacado por superar, em diversos aspectos, as principais ferramentas desenvolvidas pelas gigantes da tecnologia do Vale do Silício, nos Estados Unidos. Comparável ao ChatGPT, criado pela OpenAI, a DeepSeek foi produzida com um investimento de apenas US$ 6 milhões (cerca de R$ 34 milhões), uma fração do custo das concorrentes americanas. Esse diferencial financeiro tem gerado debates sobre o modelo de negócios das big techs e sua sustentabilidade.
De acordo com o historiador Miguel Stedile, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o surgimento da DeepSeek evidencia que as empresas americanas de tecnologia operavam sob um sistema de “pura especulação”, semelhante ao observado nos mercados de carbono e NFTs. Ele explica que essas corporações inflavam o valor de suas ações e captavam grandes somas de recursos com base em promessas de inovações revolucionárias. “A DeepSeek mostra que é possível obter resultados superiores com menos investimento, expondo como essas empresas prometem mais do que entregam na prática”, declarou Stedile no podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato.
Ideologia e Resistência à Regulação
Stedile também associa as big techs a uma visão ideológica anarcocapitalista, frequentemente defendida por bilionários ligados ao governo de Donald Trump, nos EUA. Ele cita como exemplo Peter Thiel, ex-sócio de Elon Musk no PayPal e influente na administração Trump, que advoga pela substituição dos Estados Nação por “ilhas de liberdade”. Segundo o historiador, essa perspectiva se traduz na resistência dessas empresas a medidas regulatórias e tributárias impostas pelos governos, uma postura que agora se estende ao campo das inteligências artificiais.
Regulação em Foco na Cúpula do Brics
A questão da regulação das IAs ganhou destaque na Cúpula do Brics, realizada em julho no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira. Para Stedile, esse debate marcou uma “grande novidade” no encontro, levantando preocupações sobre privacidade e o uso de dados fornecidos pelos usuários. “Estamos entregando a matéria-prima dessas tecnologias sem qualquer compensação ou controle. O que as big techs podem fazer com isso? Até que ponto nossa privacidade está protegida?”, questiona o historiador.
O Potencial da DeepSeek para o Brics
Por ser uma ferramenta de código aberto, a DeepSeek oferece ao Brics a oportunidade de desenvolver uma IA própria e colaborativa. Stedile destaca que isso poderia refletir a política externa chinesa de promover “um futuro compartilhado com a humanidade”. Ele sugere que pesquisadores dos países do Brics+ poderiam trabalhar juntos para aprimorar a tecnologia, acelerando seu desenvolvimento e ampliando seu impacto.
Uma IA Centrada nas Pessoas
Mauro Ramos, correspondente do Brasil de Fato na China, complementa a análise ao abordar a proposta chinesa de uma IA voltada para as pessoas, conforme expresso na Iniciativa Global pela Governança da Inteligência Artificial. “A China apresenta essa ideia para debate, reconhecendo os riscos envolvidos e defendendo que o avanço da IA deve priorizar o bem-estar humano, a segurança social e os direitos fundamentais”, explica Ramos.
Impacto no Cenário Global
A introdução da DeepSeek no mercado não apenas desafia as big techs americanas em eficiência e custo, mas também reacende discussões cruciais sobre especulação financeira, regulação tecnológica e o papel das IAs no futuro. Enquanto as gigantes do Vale do Silício enfrentam questionamentos sobre seus modelos de negócios, a abordagem chinesa abre novas perspectivas para a governança e o desenvolvimento colaborativo dessas tecnologias.
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Redação do Movimento PB com informações do Brasil de Fato e Podcast O Estrangeiro