Economia

Conflito no Oriente Médio pode impactar economia brasileira com alta no preço dos combustíveis

Tensão no Oriente Médio pode aumentar o preço do petróleo, afetando a gasolina, o diesel e produtos essenciais no Brasil, com reflexos na inflação.

O agravamento do conflito entre Israel e o Hamas, a quase um ano desde o início dos confrontos, trouxe novamente à tona preocupações econômicas globais, inclusive para o Brasil. A recente ação militar do Irã contra Israel, embora distante geograficamente, tem repercussões imediatas no mercado internacional de petróleo, refletindo diretamente no cotidiano dos brasileiros.

O aumento de 5% no preço do barril de petróleo nesta terça-feira (1º) é um exemplo claro da reação do mercado à instabilidade na região. “O petróleo é uma commodity global. Se há uma guerra em uma área responsável por boa parte da produção mundial, a oferta diminui e o preço sobe”, afirma Virginia Parente, economista e professora da USP.

O Brasil, sendo o oitavo maior produtor de petróleo do mundo em 2023, com 3,4 milhões de barris diários, também sente os impactos das flutuações globais. A Petrobras, a principal estatal do setor no país, enfrenta o desafio de equilibrar os preços internos com o mercado internacional. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, destaca: “Se o petróleo subir muito, o preço da gasolina, diesel e gás de cozinha pode aumentar no Brasil. O governo Lula tem tentado manter os preços controlados, mas isso pode gerar prejuízos à Petrobras ou impactar a inflação se os preços forem liberados.”

Os efeitos de um aumento no preço dos combustíveis no Brasil têm uma reação em cadeia, que afeta diversos setores da economia. A professora Virginia Parente explica que “o Brasil é movido a diesel”, referindo-se à dependência do transporte rodoviário no país. O aumento no custo dos combustíveis eleva os preços dos produtos transportados e até mesmo da energia elétrica, uma vez que as termoelétricas, acionadas em tempos de seca, também utilizam combustíveis fósseis.

Segundo o economista André Braz, da FGV/Ibre, os combustíveis representam cerca de 7% do orçamento familiar, e uma alta de 1% nos preços da gasolina pode impactar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 0,07%. “A expectativa de queda nos preços da gasolina estava em discussão, mas com o conflito no Oriente Médio, essa probabilidade diminui, ampliando as pressões inflacionárias.”

Outro ponto de preocupação para o Brasil é o impacto nas exportações, especialmente no agronegócio. O Irã, 29º maior comprador dos produtos brasileiros, adquiriu US$ 1,8 bilhão em mercadorias do Brasil entre janeiro e agosto de 2024, com a soja sendo seu principal insumo. Embora o comércio com o Irã não seja expressivo em comparação com outros mercados, o Oriente Médio como um todo representa uma fatia relevante das exportações brasileiras, especialmente em setores como açúcar, carne e soja.

Apesar disso, a professora Andréia Adami, da Esalq-USP, ressalta que o impacto direto no comércio com o Irã deve ser limitado. “Os efeitos podem aumentar se o conflito prejudicar o fluxo comercial na região. Uma escalada nas tensões pode gerar volatilidade nos preços das commodities, sobretudo do petróleo.”

Por enquanto, o foco está nos desdobramentos do conflito. Se o Irã tomar atitudes mais agressivas, como o bloqueio do Estreito de Ormuz — por onde passa um terço do petróleo comercializado mundialmente — o preço do barril pode ultrapassar os US$ 150, com consequências severas para a inflação global, incluindo a brasileira.

Texto adaptado da CNN Brasil.

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