Por Paulo Santos – João Pessoa, 30/10/24
Hoje, ao abrir o grupo da família no WhatsApp, deparei-me com uma movimentação curiosa. Uma mensagem alarmante sobre o “golpe das etiquetas no lixo” começava a dominar o chat. Meu primo Fernando havia postado uma imagem típica de corrente: título chamativo, conteúdo vago e aquele clássico “repassem!”. Em seguida, tia Tereza já ecoava o alerta, e minha irmã Mary, direto de Portugal, completava: “Já estão avisando aqui em Portugal também”. Percebi que a preocupação já havia atravessado o oceano. Respirei fundo e disparei um link do Boatos.org junto de uma orientação, tentando tranquilizar todos.
O Que Está por Trás do Boato das Etiquetas
A narrativa dos “ladrões de etiquetas no lixo” não é nova e, apesar de nunca ter sido confirmada, volta e meia ressurge nas redes sociais e grupos de WhatsApp, alimentando temores. A história sugere que bandidos estariam revirando o lixo de residências em busca de embalagens de produtos entregues, que ainda contêm etiquetas com endereços. Em seguida, usariam essas informações para simular uma entrega e, com esse pretexto, conseguiriam entrar em condomínios para realizar assaltos. Em teoria, parece um plano elaborado, mas uma análise mais cuidadosa mostra várias inconsistências.
Primeiro, não há provas de que esse “modus operandi” tenha sido usado de fato. Agências de checagem, como o Boatos.org, investigaram o tema e concluíram que a história é infundada. Não existem registros de casos em que assaltantes tenham adotado essa prática. Além disso, a mensagem circula sem detalhes específicos, o que é um sinal clássico de fake news. Geralmente, conteúdos enganosos como esse têm algumas características comuns: são vagos, usam um tom alarmista e apelam ao medo, algo que facilmente engaja e se espalha nas redes. A mensagem também não cita fontes confiáveis, outro sinal de que não é uma informação verificada.
Por Que o Boato Não Faz Sentido?
A própria logística desse golpe improvável levanta suspeitas. Na prática, condomínios e residências têm diversas camadas de segurança, sendo difícil para alguém se passar por entregador sem ser detectado. A maioria dos prédios, especialmente em grandes cidades, não permite que pessoas desconhecidas entreguem diretamente para os moradores; é comum que encomendas sejam deixadas na portaria, e o morador é avisado para retirá-las. Além disso, para um assaltante, existem métodos muito mais simples de obter informações ou acesso, e a ideia de revirar lixeiras para encontrar dados específicos soa pouco prática.
Mesmo que a mensagem em si seja improvável, ela se dissemina rapidamente porque toca em preocupações reais: a segurança em casa e a preservação da privacidade. Em um mundo cada vez mais digital, as pessoas estão mais conscientes dos riscos de exposição de dados pessoais e das diferentes táticas usadas por criminosos, o que acaba tornando-as mais vulneráveis a boatos como esse, que parecem “prevenir” contra novos golpes.
Cuidado com Dados Pessoais
Vale lembrar que, embora o “golpe do lixo” não seja uma ameaça real, é sempre importante proteger nossas informações. Documentos ou embalagens com dados pessoais, como endereço, CPF ou telefone, devem ser descartados com cuidado. Se possível, destrua essas informações antes de jogá-las fora, pois evitar a exposição dos nossos dados é uma prática de segurança que pode prevenir problemas futuros.
E, de Volta ao Grupo da Família…
Enquanto começava a redigir este texto, uma notificação do grupo da “grande família” me distraiu. Era um vídeo da tia Tereza segurando um saco de lixo: “Acabei de pegar o meu na caixa coletora do meu andar.” 🤦
Paulo Santos escreve sobre cultura pop e tecnologia pessoal para o Movimento PB.