Em um testemunho prestado à Polícia Federal (PF), recentemente divulgado, o tenente-brigadeiro do ar Carlos Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica, ofereceu detalhes significativos sobre as tensões políticas no Brasil após as eleições de 2022. Segundo o relato de Baptista Júnior, o general Marco Antônio Freire Gomes, na época comandante do Exército, teria expressado uma forte oposição a uma suposta tentativa de golpe de Estado liderada pelo então presidente Jair Bolsonaro. Essas informações, reveladas pela Folha de S.Paulo, evidenciam um momento de crise institucional que poderia ter representado uma ameaça à democracia brasileira.
Baptista Júnior afirmou em seu depoimento que Bolsonaro teria considerado a utilização de mecanismos constitucionais extraordinários, como a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o estado de defesa e o estado de sítio, para contestar o resultado eleitoral que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente. Em contrapartida, Freire Gomes teria se oposto veementemente a essas ideias, chegando até mesmo a declarar que prenderia Bolsonaro caso ele tentasse implementar seu plano.
O testemunho ainda revela que o então chefe da Marinha, Almir Garnier Santos, teria se mostrado receptivo à discussão sobre o que foi denominado de “minuta do golpe”, um documento preliminar que propunha a anulação das eleições e a convocação de um novo pleito. Esse relato destaca as divergências internas nas Forças Armadas em relação à crise política.
Baptista Júnior enfatizou em seu depoimento à PF que tanto ele quanto Freire Gomes se posicionaram firmemente contra qualquer tentativa de ruptura democrática. O ex-comandante da Aeronáutica também relatou que, em uma reunião com os comandantes das Forças Armadas e Bolsonaro, deixou claro ao então presidente que não haveria tolerância para sua permanência no poder além do término de seu mandato, por meio de meios inconstitucionais.
O testemunho de Freire Gomes à PF, corroborando as informações de Baptista Júnior, demonstra uma postura de firmeza das lideranças militares contra a possibilidade de um golpe de Estado. No entanto, a exceção, segundo os relatos, seria Almir Garnier, cuja postura diferenciada em relação aos eventos sugere uma complexidade nas dinâmicas de poder dentro das Forças Armadas.
Essas revelações trazem à tona uma faceta pouco conhecida dos bastidores políticos e militares brasileiros em um momento crítico da história recente do país. Os depoimentos indicam que, apesar das pressões e desafios enfrentados, houve elementos dentro das estruturas de poder que se mantiveram fiéis aos princípios democráticos, reafirmando o compromisso com a Constituição e com a soberania do voto popular.