Instituição concentra doações e organiza logística para que medicamentos cheguem às vítimas
Mayana dos Santos Silva, 11, é diabética desde os 4 e faz uso de duas insulinas. A mãe Angélica Ávila dos Santos Silva, 40, conseguiu pegar a medicação, mas os demais insumos, como agulhas e tiras do glicosímetro, não. Através de uma rede de apoio criada pelo ICD (Instituto da Criança com Diabetes) para a doação de insulinas e demais recursos, o tratamento de Mayana não foi interrompido.
“Com os alagamentos, a situação dos insumos ficou um pouco complicada. No dia que tínhamos que retirar na farmácia estadual, já estávamos em função dos alagamentos. Então, hoje, pelo estado não conseguimos pegar, porque a receita está vencida e não conseguimos renovar”, conta Angélica.
A família mora na Ilha da Pintada, uma das ilhas que faz parte do arquipélago do Delta do Jacuí, com o maior número de moradores. O local ficou totalmente submerso. Desde o dia 3 de maio, estão alojados na casa de familiares em um bairro no extremo da zona sul da capital gaúcha.
“Fomos resgatados na sexta-feira (3) de barco e peguei só o que ela tinha para uso, que era o suficiente por uma semana, e terminou nesta sexta (10). Entrei em contato com o ICD e relatei que ela estava ficaria sem medicação e os outros mantimentos”, diz a mãe.
O ICD está recebendo doações de todo o Brasil e destinando aos pacientes diabéticos que estejam em cidades atingidas pela enchente, sejam eles vinculados ao Instituto ou não. Além disso, estão sendo feitas doações de agulhas, seringas, glicosímetros e tiras reagentes para o aparelho. Através de um cadastro e um contato com os abrigos, o Instituto busca identificar qual insulina é utilizada pelo paciente, e, assim, disponibilizar o medicamento.
“As doações são para qualquer paciente que utiliza insulina. Os abrigos não têm mantimentos e os governos não têm a capilarização para entregar a insulina para todos que precisam. Nossa equipe médica está contatando as secretarias de saúde das cidades para organizar a logística e resolver problemas pontuais” explica o endocrinologista da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e do ICD, Dr. Balduíno Tschiedel.
Com o fechamento do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, a chegada dos mantimentos ao RS pede auxílio das aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) e da Marinha, que pousam na Base Aérea de Canoas. Entretanto, há localidades ainda isoladas por conta das enchentes. Por isso, o ICD conta com a ajuda dos voluntários da Operação Asas Solidárias, uma iniciativa de pilotos e empresários de Santa Catarina.
“Estamos fazendo uma logística de guerra”, diz Tschiedel, que está à frente da distribuição.
A manutenção e armazenagem dos medicamentos também está entre as preocupações do Instituto, já que as regiões afetadas também sofrem com a falta de energia. A recomendação é que as insulinas lacradas devem ser mantidas em refrigeração entre 2ºC e 8ºC. As que já estão em uso podem permanecer em temperatura ambiente de até 30ºC.
Em nota, a Secretaria Estadual de Saúde do RS orientou que “é necessário o cuidado para que a insulina não entre em contato com o gelo ou similar, evitando o risco de congelamento. Se for preciso transportar a insulina lacrada, o paciente deve usar uma bolsa térmica ou caixa de isopor. É permitido o uso de gelo artificial no resfriamento, mas não é recomendado o uso por parte do usuário de potes com gelo caseiro”.
A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre informou que os pacientes atingidos pelas enchentes continuam recebendo fitas, lancetas e aparelhos de medição, e que também foram trocados os aparelhos dos pacientes que perderam o equipamento.
“As farmácias distritais estão cumprindo o papel de unidades que estão alagadas e estão realizando as entregas. Estão sendo feitas a reposição de canetas de insulina e também dos frasco-ampolas para toda a rede, através das unidades e farmácias distritais”, afirma a pasta.
Por questões de segurança e para evitar a contaminação, nos abrigos da capital estão sendo entregues frasco-ampola de insulina e seringas. A Secretaria afirma que há um quantitativo suficiente de medicamentos para distribuir aos pacientes abrigados.