Com 1 em cada 3 casas gerando energia solar, país registra demanda mínima histórica e adota medidas emergenciais para evitar colapso.
A Austrália, líder global em adoção de energia solar residencial, enfrenta um desafio inédito: o sucesso na geração renovável está pressionando a rede elétrica a limites críticos. Com uma em cada três residências equipadas com painéis fotovoltaicos , o país atingiu uma capacidade combinada de mais de 20 GW, mas a sobrecarga em dias ensolarados ameaça causar apagões e danos à infraestrutura .
Crise em Victoria: demanda mínima histórica
No estado de Victoria, segunda economia nacional, a rede elétrica foi projetada para suportar entre 1.865 MW e 10.000 MW. No entanto, em setembro de 2023, a demanda despencou para 1.352 MW — o menor patamar já registrado — devido à autossuficiência energética das residências e ao excesso de injeção solar na rede . A operadora AEMO (Australian Energy Market Operator) alertou que o sistema estava à beira de um colapso, exigindo ações imediatas .
Medidas emergenciais para equilibrar a rede
Para evitar sobrecargas, a AEMO adotou estratégias como:
- Desconexão temporária de painéis solares residenciais;
- Reativação de linhas de transmissão desativadas;
- Notificação a proprietários de baterias para mantê-las vazias e absorver o excedente .
Essas medidas, embora eficazes no curto prazo, revelam a fragilidade de uma infraestrutura não adaptada à volatilidade das renováveis.
O dilema do armazenamento e a intermitência
A energia solar é intermitente e depende de condições climáticas, gerando picos de produção que não coincidem com a demanda. Como a eletricidade não pode ser armazenada em larga escala sem baterias de alta capacidade, o excedente sobrecarrega a rede, exigindo que usinas térmicas permaneçam ativas para estabilizá-la — um contrassenso ambiental .
Além disso, residências conectadas despejam energia não consumida de forma descontrolada, agravando o problema em dias de baixo consumo, como fins de semana .
Soluções em debate e lições globais
Especialistas apontam que a Austrália precisa:
- Expandir sistemas de armazenamento (ex.: baterias em escala industrial);
- Modernizar a rede para torná-la “flexível” e bidirecional;
- Regular o mercado de energia, incluindo taxação de excedentes não gerenciados .
Inspiração vem da Califórnia (EUA), que implementou políticas para redistribuir o excedente solar em horários de pico .
Ironia climática e futuro desafiador
O país, que já atende 70% de sua demanda com renováveis , vê os dias ensolarados — antes vistos como ideais — tornarem-se riscos. Enquanto no verão o ar-condicionado pressiona a rede, são os dias amenos e com alta irradiação solar que hoje desafiam a estabilidade .
Sem reformas estruturais, o crescimento desordenado de painéis solares pode transformar um marco sustentável em uma crise energética crônica.
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Texto adaptado de Xataka México e revisado pela nossa redação.