Medida faz parte da estratégia de “tarifas recíprocas” e pode impactar setor sucroalcooleiro do Brasil
O ex-presidente e candidato republicano Donald Trump anunciou, nesta quinta-feira (13), que pretende ampliar sua política de “tarifas recíprocas”, mirando agora o etanol brasileiro. A medida ocorre após a recente taxação do aço e do alumínio do Brasil e integra um pacote de barreiras comerciais contra países considerados por Trump como praticantes de comércio “injusto” com os Estados Unidos.
A Casa Branca divulgou uma lista de produtos que estariam em situação de desequilíbrio tarifário, com o etanol do Brasil ocupando a primeira posição. De acordo com o governo americano, os EUA cobram uma tarifa de apenas 2,5% sobre o etanol importado, enquanto o Brasil impõe uma alíquota de 18% sobre o combustível americano.
“Para fins de justiça, vou cobrar uma tarifa recíproca. Qualquer coisa que os países cobrem dos EUA, nós os cobraremos de volta. Nem mais, nem menos. É muito simples”, afirmou Trump ao assinar o memorando que oficializa o novo pacote de tarifas.
A medida ainda não tem data exata para entrar em vigor, já que o governo americano fará estudos para definir as alíquotas específicas para cada país e produto. No entanto, Trump afirmou que a aplicação das novas tarifas ocorrerá em “poucas semanas ou, no máximo, alguns meses”.
Impacto para o Brasil e resposta do governo
O Brasil é um dos maiores exportadores de etanol do mundo, e os Estados Unidos figuram entre os principais destinos do combustível brasileiro. Em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto as exportações americanas para o mercado brasileiro somaram apenas US$ 52 milhões.
A medida de Trump gerou reação imediata no setor sucroalcooleiro. Evandro Gussi, diretor-presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), criticou a decisão e afirmou que os EUA impõem barreiras comerciais muito mais rígidas para produtos brasileiros do que o contrário.
“A tarifa de 18% sobre o etanol americano sequer é uma decisão isolada do Brasil, mas sim do Mercosul. Além disso, os EUA impõem uma tarifa de 100% sobre o açúcar brasileiro quando ele entra no mercado americano. O governo Trump não pode se vender como um paraíso da abertura comercial”, afirmou Gussi.
O governo brasileiro, por sua vez, tem buscado negociar para tentar reverter as tarifas já impostas sobre o aço e o alumínio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que pode adotar medidas de retaliação caso a nova tarifa contra o etanol seja oficializada.
“Se Trump taxar os produtos brasileiros, vamos taxar de volta. Minha intenção é melhorar a relação com os EUA, tentando exportar mais. Trump precisa respeitar a soberania dos outros países”, declarou Lula há duas semanas.
No entanto, até o momento, o Itamaraty não se manifestou oficialmente sobre a nova ameaça tarifária. Nos bastidores, o governo brasileiro considera que o país deveria estar fora das primeiras rodadas do novo pacote de tarifas, uma vez que os EUA têm superávit comercial de US$ 7,3 bilhões nas trocas com o Brasil.
A decisão de Trump faz parte de uma estratégia mais ampla de protecionismo econômico, que já atingiu outros parceiros comerciais dos EUA, como União Europeia, Japão, Coreia do Sul e Índia. Economistas alertam que a escalada das tarifas pode gerar impactos inflacionários nos EUA, além de provocar reações dos países afetados, ampliando as tensões comerciais no cenário global.
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Texto adaptado de BBC News Brasil e revisado pela nossa redação.