Avaliação é de especialistas ouvidos pela Agência Brasil
Os disparos contra o ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos reacenderam o debate sobre o aumento da violência política em algumas sociedades nos últimos anos, como a brasileira e a norte-americana. Especialistas consultados pela Agência Brasil apontam que discursos de ódio e a chamada “guerra cultural”, potencializada pelas redes sociais, alimentam essa violência.
Características da “Guerra Cultural”
Pablo Almada, pós-doutor do Núcleo de Estudos da Violência da USP, explica que a “guerra cultural” é uma estratégia que cria espaços de batalha nas redes sociais e fomenta uma lógica binária e excludente. Almada destaca que essa disputa ideológica, que ganhou força a partir da década de 2010, é usada por grupos conservadores para manipular a opinião pública.
Violência legitimada
Rafael R. Ioris, professor da Universidade de Denver e pesquisador do Washington Brazil Office, avalia que a violência política é impulsionada por discursos de ódio que legitimam o uso da força para resolver questões políticas. Ele observa que essa violência é parte de uma dinâmica autoritária e homogênea que prega a eliminação das diferenças.
Papel das redes sociais
Ambos especialistas enfatizam o papel central das redes sociais na disseminação de discursos de ódio e desinformação, que amplificam visões equivocadas sobre o outro. Almada destaca que a desinformação vai além de notícias falsas, abrangendo discursos e narrativas construídas a partir de memes e virais. Ioris acrescenta que, embora as redes sociais não sejam o mal em si, elas servem como instrumento para dar voz a discursos anti-sistêmicos.
Impacto na democracia
O crescimento da violência política é visto como um sintoma de uma crise nas democracias liberais, incapazes de resolver os problemas sociais e econômicos, o que abre espaço para atores que propõem uma ruptura democrática. Ioris observa uma insatisfação crescente com a representação política, enquanto Almada destaca os ataques às instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil, como parte dessa “guerra cultural”.
Juventude vulnerável
Almada aponta que a juventude, principal consumidora de internet, é especialmente vulnerável à desinformação disseminada pelas redes sociais. Ioris observa que, embora muitos jovens estejam insatisfeitos com o sistema, não é possível generalizar a adesão deles a discursos radicalizados.
Os especialistas concluem que a violência política contemporânea, alimentada por discursos de ódio e desinformação nas redes sociais, representa um desafio significativo para a manutenção das democracias liberais em diversas partes do mundo.