A crescente influência do crime organizado nas eleições municipais brasileiras, principalmente em grandes metrópoles como o Rio de Janeiro, levanta preocupações sobre a segurança eleitoral e a integridade do processo democrático, segundo especialistas.
A infiltração de grupos criminosos na política, especialmente em eleições municipais, tem se tornado uma ameaça crescente à segurança do processo eleitoral no Brasil. Recentemente, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) alterou 53 locais de votação em dez municípios devido a riscos relacionados à atuação do crime organizado, afetando 171 mil eleitores. Segundo o presidente do tribunal, desembargador Henrique Carlos de Andrade Figueira, essas mudanças são essenciais para garantir a segurança dos eleitores em áreas controladas por milícias e traficantes.
Especialistas ouvidos pela Agência Brasil apontam que a atuação desses grupos em eleições urbanas é um fenômeno relativamente recente, que ganhou força em metrópoles como o Rio de Janeiro, São Paulo e até João Pessoa, onde o crime organizado tenta interferir diretamente no resultado eleitoral por meio de ameaças, violência e coação.
De acordo com Alan Fernandes, doutor em Ciências Policiais e Segurança Pública, o crime organizado tem aprendido a operar de dentro do Estado, especialmente em áreas periféricas e regiões historicamente mais vulneráveis. Em algumas zonas eleitorais, eleitores podem ser impedidos de votar ou forçados a apoiar determinados candidatos com conexões com facções criminosas.
No Rio de Janeiro, as milícias têm se utilizado da política para fortalecer seu domínio. Medidas como a proibição do uso de celulares nas cabines de votação foram implementadas para impedir que criminosos forcem eleitores a registrar provas de seus votos. Essa ação é parte de um esforço contínuo para proteger o processo eleitoral da influência dessas facções.
Miguel Carnevale, pesquisador do Grupo de Investigação Eleitoral da UniRio, destacou que a influência do crime organizado é mais intensa nas eleições municipais, onde o contato entre candidatos e comunidades é mais direto. Isso cria uma dinâmica perigosa de clientelismo e controle territorial por parte de grupos armados.
Estudos também revelam que as eleições municipais tendem a ser mais violentas que as estaduais e federais, com assassinatos de candidatos e opositores políticos sendo um risco real. Só na Baixada Fluminense, 60 assassinatos relacionados à política local foram registrados desde 2015. Além disso, a violência eleitoral não se limita ao crime organizado. A polarização ideológica e o uso crescente das redes sociais têm amplificado ameaças e ofensas raciais, misóginas e LGBTfóbicas, contribuindo para um clima tenso nas eleições de 2024.
O aumento da violência eleitoral, principalmente nos últimos meses de campanha, preocupa especialistas que apontam a necessidade de medidas adicionais para proteger a integridade do processo e a segurança dos eleitores. A Força Nacional de Segurança foi mantida no estado do Rio de Janeiro durante o período eleitoral para reforçar a presença policial nos dias de votação.
Fonte: adaptação de artigo da Agência Brasil