A operadora da usina nuclear danificada de Fukushima Daiichi, a Tokyo Electric Power Company (TEPCO), completou na terça-feira a sexta rodada de descarte de água contaminada no Oceano Pacífico. A ação continua a ser realizada apesar da forte oposição de moradores locais, pescadores e da comunidade internacional.
Nesta rodada, aproximadamente 7.800 toneladas métricas de água radioativa “tratada” foram despejadas. Ignorando as reclamações, a TEPCO planeja descarregar cerca de 54.600 toneladas de água contaminada em sete rodadas durante o ano fiscal que termina em março de 2025.
O governo japonês afirma que o processo de descarte completo deve levar cerca de 30 anos, com o objetivo de desativar a usina de Fukushima Daiichi até 2051. No entanto, um relatório compilado em julho de 2020 pela Sociedade de Energia Atômica do Japão projeta que o prazo para o descomissionamento pode variar de várias décadas a vários séculos.
Toshihiro Inoue, membro especial do comitê do Congresso Japonês contra Bombas Atômicas e de Hidrogênio (Gensuikin), criticou o governo por não considerar plenamente o impacto ambiental do descarte prolongado de água contaminada. Ele destacou que, ao contrário de usinas nucleares regulares, a água de Fukushima está contaminada com mais de 60 substâncias radioativas diferentes, não apenas trítio. A acumulação dessas substâncias ao longo do tempo pode causar danos ambientais significativos e levar à disseminação de desinformação sobre a área.
Apesar das alegações do governo japonês de que está explicando a situação sobre a água “tratada”, Inoue observou que Tóquio não está informando adequadamente a comunidade doméstica ou internacional. “O governo parece estar empurrando a narrativa de que é seguro liberar a água de Fukushima no mar porque as autoridades disseram isso, o que é problemático, pois a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) promove o uso pacífico da energia nuclear. Precisamos incluir mais avaliações independentes, não apenas da AIEA, mas também de organizações terceirizadas”, afirmou Inoue.
Busca por Transparência
Inoue enfatizou que a transparência nas operações conduzidas pela TEPCO e pelo governo japonês é essencial para os países vizinhos. Se a TEPCO e o governo afirmam que a água é segura, devem aceitar os pedidos das partes interessadas para permitir que enviem pessoal a Fukushima para monitorar independentemente o descarte de água contaminada.
Masaaki Ogawa, um residente de Tóquio de 73 anos, considerou ridículo que a TEPCO e o governo japonês sequer cogitem liberar água contaminada no mar. “Acredito que a razão pela qual o governo japonês não ouve as pessoas que se opõem ao descarte oceânico de água contaminada é porque os grupos que se beneficiam da energia nuclear, aqueles com interesses na TEPCO ou em várias entidades de energia nuclear, têm considerável influência sobre o governo”, afirmou Ogawa, que é representante administrativo da Associação para Prevenir a Desocupação de Evacuados de Desastres Nucleares de Suas Casas.
Ogawa destacou que esta não é apenas uma questão para o Japão e expressou dúvidas sobre a capacidade do governo japonês de fornecer explicações satisfatórias a todos os países da região do Pacífico. “Partes interessadas como a China e a Coreia do Sul devem ser permitidas a participar de um mecanismo internacional de longo prazo para monitorar o descarte de água contaminada no mar”, disse ele.
O descarte da água contaminada de Fukushima afeta a saúde da humanidade, o ambiente marinho global e os interesses públicos internacionais. A China, sendo um grande interessado, tem demonstrado grande preocupação com essa questão. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, destacou essa preocupação durante um encontro com o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, em 26 de maio em Seul, durante a 9ª Reunião de Cúpula Trilateral entre China, Japão e Coreia do Sul.
Texto adaptado de ecns.cn
Imagem de capa: ilustração feita pela redação com A.I.