O líder do MST, João Pedro Stedile, ressalta a colaboração com o governo venezuelano em projetos de reforma agrária, destacando a luta contra o imperialismo e a soberania alimentar.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem estreitado laços com o governo da Venezuela, buscando alternativas para enfrentar o sistema capitalista, especialmente através da reforma agrária. A relação entre o movimento brasileiro e o processo revolucionário venezuelano, iniciado por Hugo Chávez, se fortalece por meio de projetos conjuntos focados na soberania alimentar e desenvolvimento rural.
João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST, enfatiza a importância dessa aliança, que tem como ponto central o empoderamento dos camponeses e a implementação de políticas públicas que permitam a produção de alimentos saudáveis. Um dos mais recentes projetos envolve uma parceria com o governo de Nicolás Maduro para a produção de alimentos em uma área de mais de 10 mil hectares no estado de Bolívar.
“Nós achamos que o melhor modelo seria um projeto de desenvolvimento agro-silvo-pastoril, ou seja, numa mesma área, você refloresta com árvores nativas, planta árvores frutíferas do bioma que possam dar renda – como cacau, banana e cupuaçu – planta alimentos da culinária local e implementa a pecuária”, explica Stedile, que vê nesse projeto uma oportunidade de promover uma produção sustentável e aumentar a qualidade de vida dos camponeses venezuelanos.
A área destinada ao projeto tem um valor histórico, pois já pertenceu à família Rockefeller, uma das mais ricas dos Estados Unidos. Em 2005, como parte de um programa de reforma agrária, o então presidente Hugo Chávez expropriou terras improdutivas e redistribuiu-as para pequenos agricultores, como forma de garantir sua função social.
Convergência de ideais
A aproximação entre o MST e o governo venezuelano, de acordo com Stedile, é natural, visto que ambos compartilham o desejo de combater o imperialismo estadunidense e defender a soberania nacional. “Nos identificamos com o processo bolivariano desde a vitória de Chávez em 1998, pois ele promoveu uma nova forma de organização das massas, necessária para libertar a Venezuela do domínio imperialista”, afirma o líder do MST.
Stedile também destaca que a reforma agrária e a soberania alimentar são questões centrais tanto para o MST quanto para o governo venezuelano, sendo temas recorrentes nos debates entre os dois lados.
Projetos conjuntos e intercâmbio
Desde o início do governo de Chávez, o MST vem desenvolvendo uma série de iniciativas de cooperação com organizações camponesas venezuelanas. Uma das primeiras colaborações foi a criação do Instituto Latinoamericano de Agroecologia (IALA), que possui mais de dez escolas pela América Latina. O instituto promove o intercâmbio de conhecimentos entre camponeses e incentiva a produção de sementes e técnicas de agroecologia.
Além disso, o governo venezuelano tem oferecido oportunidades de formação para jovens brasileiros na Escola Latino-americana de Medicina, fortalecendo a relação entre os dois países em áreas relacionadas à agricultura e saúde.
Desafios e perspectivas
A execução do projeto no estado de Bolívar demandará a mobilização de técnicos especializados em sistemas agroflorestais e de camponeses com experiência no cultivo sustentável. Para Stedile, embora a implementação possa demorar, o projeto tem o potencial de se tornar um modelo para outros países da Amazônia.
Ele também ressalta que a Venezuela não está isolada no cenário internacional, apesar da forte campanha midiática que busca desestabilizar o país. “Os ataques vêm principalmente da mídia burguesa e de uma guerra cibernética, como denunciou Maduro. No entanto, empresários brasileiros e colombianos continuam a investir e ampliar o comércio com a Venezuela”, conclui.
Texto adaptado de Brasil de Fato.