Atemporal

Linguística e Neurociência se Unem para Explorar os Efeitos das Metáforas no Cérebro

Pesquisadores do IEA-USP utilizam ressonância magnética para estudar como metáforas afetam a atividade neural em cegos congênitos e videntes.


Foto: Mauro Bellesa/ IEA-USP

Um projeto multidisciplinar conduzido por pesquisadores do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP está investigando como metáforas em audiodescrição influenciam a atividade cerebral de cegos congênitos e pessoas sem deficiência visual. Coordenado pela linguista Maria Célia Lima Hernandes, o estudo começou em 2022 com a produção de imagens por ressonância magnética funcional (fMRI) de voluntários.

No dia 28 de junho, o evento “Crânios e Cérebros: Estudos Fora da Caixinha – Perspectivas e Recortes Científicos” reuniu cientistas do projeto e parceiros de áreas correlatas para discutir suas descobertas. Everton Gondim, diretor técnico do Instituto Jundiaiense Luiz Braille, explicou que os testes iniciais foram realizados em pessoas videntes, com baixa visão e cegueira tardia, devido à raridade de cegos congênitos.

Em 2023, um grupo de cegos congênitos foi encontrado em São José do Rio Preto. Os voluntários passaram pela fMRI e foram expostos a frases organizadas em quatro grupos: não metáforas, metáforas equativas, metáforas cotidianas e metáforas com gatilhos mentais, variando em dificuldade de reconhecimento.

“Agora temos mais pessoas e o projeto ganhou mais notoriedade. A partir do segundo semestre deste ano, realizaremos novos experimentos”, afirmou Maria Célia. “O evento foi uma oportunidade de compartilhar ideias em desenvolvimento. Ainda não temos os resultados finais”, completou a coordenadora, mencionando a preparação para o Congresso Sobre Linguagem e Cognição em novembro.

Leia Também!  Nova versão do ChatGPT pode transformar a relação entre humanos e IA, mas gera incertezas
Foto: Currículo Lattes – Maria Célia Lima Hernande

Por Que Metáforas?

A metáfora, presente até no título do evento, “Crânios e Cérebros: Estudos Fora da Caixinha”, desencadeia processos complexos no cérebro humano. “A habilidade de interpretar uma metáfora ativa vários subdomínios, cada um utilizando circuitos específicos”, explicou Mariana Nucci, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica em Ressonância Magnética (LIM 44) do Hospital das Clínicas da USP.

Mariana Nucci apresentou seu estudo junto com Hernán Joel Cervantes, do Instituto de Física da USP. Cervantes explicou os fundamentos da fMRI, enquanto Nucci focou no processamento da linguagem pelo cérebro.

Os participantes observaram as diferenças na atividade cerebral ao serem expostos a metáforas populares, que ativam várias regiões cerebrais, sugerindo a formação de novas relações baseadas no conhecimento prévio.

Tempo de Resposta e Recontação de Histórias

O “Projeto Universal – Recursos Inferenciais na Metáfora Situada e Audiodescrição” desdobra-se em vários subprojetos. Saulo Paulino e Silva, pesquisador em linguística, abordou o processamento de metáforas audiodescritas por cegos congênitos, focando no tempo de resposta ao reconhecerem a metáfora.

Renata Vicente, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, pesquisa os gatilhos mentais causados pelas metáforas, comparando as respostas entre cegos e videntes. Mônica Santos, doutora em linguística, está na fase inicial de sua pesquisa sobre o uso do Braille por mulheres que perderam a visão.

Cristina Defendi, do Instituto Federal de São Paulo, comparou como cegos e videntes recontam histórias após ouvi-las, investigando se o destaque é dado à temática ou às figuras narrativas.

Leia Também!  Nova versão do ChatGPT pode transformar a relação entre humanos e IA, mas gera incertezas
Participantes do evento Crânios e Cérebros: Estudos Fora da Caixinha – Perspectivas e Recortes Científicos realizado em 28 de junho no IEA – Foto: Pedro Seno/Serviço de Comunicação Social – FFLCH USP

Hominínios e Confabulação

Além dos membros do Projeto Universal, o evento contou com Edwiges Maria Morato, da Unicamp, e Walter Neves, pesquisador em paleoantropologia vinculado ao IEA. Neves apresentou crânios demonstrando a evolução humana, ressaltando que o tamanho do cérebro nem sempre é determinante para a capacidade simbólica.

Edwiges Maria Morato discutiu sua pesquisa sobre confabulação, destacando a importância da interdisciplinaridade na ciência para uma compreensão mais complexa e eficaz do conhecimento.


Estagiária sob supervisão de Luiza Caires e Moisés Dorado


Fonte: adaptação de Jornal da USP

Compartilhar: