A inauguração do megaporto de Chancay, no Peru, financiado pela China, promete revolucionar o comércio entre a América Latina e a Ásia, especialmente com o Brasil. O porto, localizado 70 km ao norte de Lima e operado pela gigante chinesa Cosco Shipping, reduz em até 10 dias o tempo de transporte marítimo entre os dois países. No entanto, a ausência de infraestrutura terrestre eficiente desafia seu potencial estratégico.
Conexão mais curta, mas barreiras terrestres complexas
Embora o porto facilite o trânsito de cargas entre os dois continentes, a travessia pela Amazônia e pelos Andes é dificultada pela falta de estradas adequadas e pela inexistência de ferrovias conectando as áreas de produção no Brasil às costas do Pacífico. “É geograficamente complicado”, destaca Marco Germanò, pesquisador da Universidade de Nova York.
Atualmente, caminhões enfrentam estradas inadequadas, especialmente no Acre, que tem potencial para exportação, mas carece de infraestrutura logística. Apesar de planos para melhorar as rodovias, o governo brasileiro ainda não priorizou projetos mais ambiciosos, como a ligação entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa, no Peru, devido a preocupações ambientais e sociais.
Impacto comercial e geopolítico
Com o porto, o Peru busca se tornar um hub de exportação para a Ásia, especialmente em minerais como cobre, além de commodities agrícolas brasileiras, como soja e milho. A iniciativa também é uma resposta da China às tensões comerciais com os EUA e à busca de diversificação de parceiros comerciais.
Ainda assim, especialistas apontam que a integração efetiva entre os países sul-americanos será crucial para o sucesso do projeto. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) do Brasil destaca a necessidade de acordos de transporte transfronteiriços e melhoria na infraestrutura para que o porto alcance todo seu potencial.
Desafios e oportunidades para o Brasil
Para o agronegócio brasileiro, o megaporto representa uma oportunidade de expandir o comércio com a Ásia. No entanto, altos custos logísticos e barreiras naturais continuam sendo entraves significativos. Segundo Edeon Vaz, do Movimento Pro-Logística, “a travessia dos Andes com caminhões menores aumenta os custos, reduzindo a competitividade dos produtos”.
Apesar dos desafios, o porto de Chancay simboliza um passo importante para melhorar a competitividade sul-americana no mercado global. Se os países da região conseguirem superar as barreiras de infraestrutura, a iniciativa poderá redefinir as rotas comerciais e fortalecer a posição estratégica da América Latina no comércio internacional.