Pesquisas recentes mostram o acúmulo alarmante de microplásticos no cérebro humano, levando especialistas a pedir ações urgentes contra a poluição plástica.
Cientistas têm identificado um crescente acúmulo de microplásticos em órgãos humanos críticos, incluindo o cérebro, o que tem levado pesquisadores a alertar sobre a necessidade urgente de combater a poluição por plásticos. Amostras de tecidos cerebrais coletadas em 2024 revelaram que, em média, 0,5% do peso era composto por plástico.
Estudos anteriores já haviam detectado partículas plásticas em órgãos como pulmões, placenta, fígado, rins e medula óssea. Contudo, a descoberta de microplásticos no cérebro chamou a atenção de especialistas, que agora defendem a declaração de uma emergência global para enfrentar a crise da poluição plástica. “É imperativo declarar uma emergência global para lidar com a poluição plástica”, afirmou Sedat Gündoğdu, pesquisador da Universidade Cukurova, na Turquia.
Os microplásticos, definidos como fragmentos menores que 5mm de diâmetro, chegam ao corpo humano por meio da poluição disseminada no ar, na água e nos alimentos. Os riscos à saúde ainda não são totalmente compreendidos, mas pesquisas iniciais sugerem que essas partículas podem aumentar o risco de doenças como estresse oxidativo, inflamações e problemas cardiovasculares.
Estudos com animais já associaram microplásticos a problemas de fertilidade, cânceres, disfunções no sistema endócrino e imunológico, além de dificuldades de aprendizado e memória. Até o momento, não há padrões governamentais nos Estados Unidos para medir a presença de partículas plásticas em alimentos ou água, embora a Agência de Proteção Ambiental (EPA) esteja desenvolvendo diretrizes nesse sentido e financiando pesquisas desde 2018.
A presença crescente de microplásticos em órgãos humanos é motivo de preocupação, conforme apontou Bethanie Carney Almroth, ecotoxicologista da Universidade de Gotemburgo, na Suécia: “É assustador”. Um estudo recente ainda em revisão, liderado pelo toxicologista Matthew Campen, da Universidade do Novo México, revelou que amostras de cérebro continham 10 a 20 vezes mais microplásticos do que outros órgãos analisados. “É bastante alarmante”, comentou Campen. “Há muito mais plástico em nossos cérebros do que eu poderia imaginar ou aceitar.”
A pesquisa revelou que amostras cerebrais de pessoas com demência, incluindo Alzheimer, apresentaram até 10 vezes mais plásticos do que cérebros saudáveis. Além disso, a quantidade de microplásticos nos cérebros analisados em 2024 foi 50% maior que em amostras de 2016, sugerindo um aumento constante na concentração dessas partículas.
Embora já se saiba que a barreira hematoencefálica não é totalmente eficaz contra microplásticos, a descoberta de grandes quantidades dessas partículas no cérebro humano destaca a necessidade de maior investigação. Almroth afirmou que essa barreira “não é tão protetora quanto gostaríamos”.
Outros estudos reforçam a gravidade do problema. Uma pesquisa publicada no Journal of Hazardous Materials encontrou microplásticos em todas as amostras de medula óssea examinadas, enquanto um estudo em Pequim revelou a presença dessas partículas nas articulações de todos os pacientes submetidos a cirurgias de quadril ou joelho.
A concentração de microplásticos em testículos humanos foi três vezes maior que em cães, segundo um estudo publicado na Toxicological Sciences. Já a revista International Journal of Impotence Research relatou a presença de plásticos em quatro de cinco homens que receberam implantes penianos.
O problema se estende até mesmo à placenta humana, onde outra pesquisa identificou microplásticos em todas as 62 amostras analisadas. Em outro estudo, pacientes com depósitos de gordura nas artérias carótidas que continham microplásticos apresentaram risco 2,1 vezes maior de infarto ou AVC.
Apesar das evidências, a Food and Drug Administration (FDA) afirma que os níveis de microplásticos detectados em alimentos não representam risco à saúde humana. No entanto, especialistas recomendam medidas preventivas, como evitar o uso de plásticos na preparação de alimentos e preferir água da torneira em vez de engarrafada.
Pesquisas indicam que microplásticos podem carregar substâncias tóxicas para o corpo, o que agrava os potenciais impactos à saúde. Leonardo Trasande, da Universidade de Nova York, enfatiza que, embora os efeitos a longo prazo ainda sejam desconhecidos, é evidente que os microplásticos servem como “sistemas eficazes de entrega de substâncias tóxicas”.
A indústria plástica, representada pelo American Chemistry Council, afirmou que está comprometida em avançar na compreensão científica sobre microplásticos. Enquanto isso, a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente trabalha na criação de um tratado global para pôr fim à poluição por plásticos.
“A verdade é que não há mais lugar intocado, desde as profundezas dos oceanos até a atmosfera e o cérebro humano”, concluiu Almroth.
Texto adaptado de The Guardian.