O satélite Einstein Probe, desenvolvido pela China, captou um objeto celeste enigmático que desafia os modelos astronômicos conhecidos, podendo representar uma nova categoria de fenômeno cósmico.
Uma missão espacial chinesa liderada pelo satélite Einstein Probe (EP) identificou um enigmático objeto celeste temporário, que pode representar uma nova categoria de fenômeno cósmico. O objeto, denominado EP240408a, foi detectado pela primeira vez em abril, após um intenso surto de raios-X que fez sua luminosidade aumentar em 300 vezes. O brilho do objeto, no entanto, desapareceu em questão de segundos e extinguiu-se em cerca de 10 dias.
Desenvolvido pela Academia Chinesa de Ciências (CAS), o satélite Einstein Probe foi projetado para monitorar corpos celestes transitórios e explosivos. O primeiro estudo formal sobre o EP240408a foi publicado recentemente no jornal Science China Physics, Mechanics & Astronomy.
“O comportamento deste objeto não corresponde a nenhum modelo conhecido, sugerindo que pode pertencer a uma nova classe de fenômenos celestes transitórios”, afirmou Yuan Weimin, cientista-chefe do programa EP no Observatório Nacional de Astronomia da CAS.
A tecnologia avançada do satélite, equipada com o Telescópio de Raios-X de Campo Largo e o Telescópio de Raios-X de Acompanhamento, permite a detecção de raios-X provenientes de fontes transitórias e pouco luminosas, frequentemente ignoradas por outros equipamentos espaciais. Yuan destacou que a capacidade de visão e resolução do EP supera em 10 vezes a sensibilidade dos equipamentos internacionais existentes.
A 600 quilômetros acima da Terra, o EP monitora fontes de raios-X que ajudam a esclarecer fenômenos como buracos negros e ondas gravitacionais, previstos nas teorias de Albert Einstein. Desde o seu lançamento em janeiro, o satélite já identificou 60 corpos transitórios confirmados, incluindo anãs brancas, estrelas de nêutrons, buracos negros e erupções de raios gama, além de mais de 480 erupções estelares.
Paul O’Brien, professor de física e astronomia da Universidade de Leicester, no Reino Unido, destacou a importância dos resultados obtidos: “Essas descobertas ilustram o grande impacto científico do EP”.
Outro destaque da missão foi a observação de uma erupção de raios gama distante, capturada em seus primeiros estágios de emissão de raios-X suaves. Essa descoberta oferece novos insights sobre a era de reionização do universo — período em que o hidrogênio neutro foi reionizado por intensa radiação.
A equipe do EP, composta por mais de 300 cientistas, sendo três quartos da China e o restante da Europa, emitiu mais de 100 alertas para a comunidade astronômica global, incentivando estudos adicionais. Além de identificar eventos isolados, o EP conduziu pesquisas celestes recorrentes, gerando o primeiro mapa de raios-X de todo o céu desenvolvido na China. Yuan afirmou que o satélite representa mais de 30% das informações disponíveis nas plataformas globais para o estudo de fenômenos transitórios e explosivos.
Anualmente, a equipe do EP abre convocatórias para propostas de pesquisa de cientistas chineses e compartilha dados com pesquisadores internacionais após um ano da sua obtenção.
O interesse da China por fenômenos transitórios remonta à Dinastia Han (202 a.C. – 220 d.C.). Em 1054, astrônomos da Dinastia Song (960-1279) registraram a “Estrela Convidada de Tian Guan”, posteriormente conhecida como Nova Chinesa, uma explosão de supernova que marcou uma das observações astronômicas mais importantes da história.
Em homenagem a esse legado, o satélite Einstein Probe — conhecido em chinês como Tian Guan — busca inspirar futuras contribuições chinesas à astronomia mundial.
Texto traduzido de China Daily e revisado pela nossa redação.