A chegada de novos medicamentos contra a obesidade, como o Wegovy, promete transformações significativas no tratamento dessa condição que afeta milhões de pessoas.
A ciência de desenvolver medicamentos envolve, muitas vezes, decifrar e imitar processos naturais. Esse princípio é a base da nova linha de medicamentos contra a obesidade, que está prestes a ser lançada no Brasil. A partir de 1º de agosto, com a chegada do Wegovy, uma versão mais potente do Ozempic, inaugura-se uma nova era de tratamentos que simulam hormônios naturais do corpo para induzir perdas de peso significativas, algo antes impossível com medicamentos. As “canetas” do laboratório dinamarquês Novo Nordisk são aguardadas ansiosamente por médicos e pacientes.
A realidade é que muitas pessoas não conseguem perder peso apenas com mudanças no estilo de vida, enfrentando barreiras genéticas, ambientais e comportamentais. Nessa conjuntura, o desenvolvimento de novas substâncias — quando administradas com cuidado — representa uma verdadeira revolução no tratamento da obesidade, um problema de saúde pública que afeta mais de 1 bilhão de pessoas globalmente.
O Wegovy e outros medicamentos prometem ampliar o arsenal terapêutico disponível, promovendo reduções de peso expressivas e superiores às geradas por medicamentos anteriores. A semaglutida, presente no Ozempic e Wegovy, e a tirzepatida (Mounjaro), que deve chegar ao Brasil em breve, são destaques nas discussões médicas e financeiras. A Novo Nordisk e a Eli Lilly, fabricantes desses medicamentos, têm valores de mercado impressionantes, reflexo do impacto de suas inovações.
Esses medicamentos, denominados análogos de GLP-1, imitam substâncias produzidas naturalmente pelo intestino, promovendo saciedade e reduzindo o apetite. Inicialmente, eram injetáveis de uso diário, mas a semaglutida e a tirzepatida trouxeram a conveniência de aplicações semanais e resultados de perda de peso ainda mais significativos. “Um terço dos pacientes apresenta redução superior a 20%”, afirma Priscilla Mattar, vice-presidente da área médica da Novo Nordisk no Brasil.
No entanto, o sucesso desses medicamentos levanta preocupações. O uso inadequado, sem prescrição e orientação médica, pode resultar em efeitos colaterais como náuseas, diarreia e dores de cabeça. “Não se trata de remédio para emagrecer, mas de um tratamento para obesidade, uma doença que exige controle contínuo”, destaca Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica.
A crescente demanda por esses medicamentos levou a Novo Nordisk a investir pesadamente em suas fábricas para garantir o abastecimento. “Precisamos de um tempo para a companhia se organizar e adequar a produção às necessidades regionais”, explica Priscilla Mattar.
Pesquisas recentes indicam que esses medicamentos, além de ajudar na perda de peso, podem tratar outros problemas de saúde, como gordura no fígado e apneia do sono, e proteger o coração. Um estudo com a semaglutida mostrou que ela reduz em 20% o risco de eventos cardiovasculares maiores, como infartos e derrames.
O futuro promete ainda mais avanços. A Eli Lilly está desenvolvendo a retatrutida, um medicamento que pode atingir perdas de peso de até 30%. A Novo Nordisk também está investigando combinações de seus medicamentos para otimizar os resultados.
Embora os medicamentos ofereçam uma nova esperança, a cirurgia bariátrica ainda é considerada uma opção eficaz, especialmente em termos de custo-benefício. No entanto, os altos preços dos novos medicamentos, como o Wegovy, que deve custar cerca de R$ 2.500 por caixa, limitam o acesso. A esperança é que a quebra de patentes e a produção de versões genéricas tornem esses tratamentos mais acessíveis.
O tratamento da obesidade deve ir além da perda de peso, considerando múltiplos aspectos metabólicos, emocionais e sociais. “A abordagem do paciente não pode restringir-se à perda de peso, mas deve incluir múltiplos aspectos metabólicos, emocionais e sociais”, afirma Paulo Miranda, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. A nova era de tratamentos promete ajudar profissionais e pacientes a enfrentar esse desafio de forma mais eficaz.
Fonte original: texto adaptado de VEJA, edição nº 2901, de 12 de julho de 2024.