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O Dia em que os Médicos Aprenderam a Lavar as Mãos: Uma Revolução na Higiene Médica

Na década de 1840, Ignaz Semmelweis, um médico húngaro, estava à frente da maternidade do Hospital Geral de Viena, na Áustria, quando notou algo perturbador: a taxa de infecção nas grávidas da ala A era significativamente maior do que na ala B. Determinado a descobrir o motivo, Semmelweis observou que na ala A os pacientes eram atendidos por doutores e estudantes que frequentemente realizavam autópsias, enquanto na ala B, as mulheres eram cuidadas por enfermeiras sem contato com cadáveres.

Semmelweis suspeitou que os médicos estavam transferindo doenças dos cadáveres para as pacientes, mesmo sem saber exatamente como. Ele então ordenou que todos os funcionários lavassem as mãos regularmente, resultando em uma redução dramática das infecções. Contudo, sua descoberta foi recebida com ceticismo pelos colegas, que não acreditavam que sua própria falta de higiene fosse a causa das mortes. Semmelweis acabou perdendo seu emprego e, apesar de publicar suas descobertas em 1861, morreu quatro anos depois sem reconhecimento.

A Teoria dos Germes e a Pasteurização

A revolução sanitária continuou na segunda metade do século 19 com as contribuições do francês Louis Pasteur. Junto com o alemão Robert Koch, Pasteur desenvolveu a teoria dos germes, que postulava a existência de microrganismos responsáveis por diversas doenças. Pasteur estudou como esses micróbios estragavam alimentos e criou a pasteurização, um processo de choque térmico que mata bactérias, aumentando a durabilidade dos alimentos.

Joseph Lister e o Primeiro Antisséptico

Inspirado pelas ideias de Pasteur, o cirurgião inglês Joseph Lister investigou as infecções em fraturas ósseas. Em 1865, Lister testou uma solução diluída de fenol, usada para tratar esgotos, para higienizar mãos, equipamentos e feridas. Este foi o nascimento do primeiro antisséptico, que reduziu drasticamente as infecções pós-operatórias. Lister também criou protocolos rigorosos de higienização para cirurgias e desenvolveu sabonetes e sprays desinfetantes.

A Revolução Sanitária

As descobertas de Lister, publicadas em 1867, e a ampla aceitação da teoria dos germes nos anos 1880, transformaram a assepsia no padrão-ouro em procedimentos cirúrgicos. Lister tornou-se o cirurgião particular da Rainha Vitória e teve seu nome imortalizado no enxaguante bucal Listerine.

A revolução sanitária não foi obra de uma única pessoa. Profissionais de saúde como a enfermeira Florence Nightingale, que insistiu na lavagem das mãos entre os médicos do exército britânico, também desempenharam papéis cruciais.

Impacto Duradouro

Em meados do século 19, a expectativa de vida média global era de cerca de 30 anos. Hoje, é de 72, um aumento significativo graças às práticas de higiene introduzidas por pioneiros como Semmelweis, Pasteur e Lister. Seus esforços revolucionaram a medicina e salvaram milhões de vidas, demonstrando a importância de hábitos simples como a lavagem das mãos.

Referências

Para aprofundar-se na história da revolução sanitária e na vida desses pioneiros, consulte os livros:

  • “Medicina dos Horrores” de Lindsey Fitzharris
  • “Medicina Macabra” de Thomas Morris
  • “A Fabulosa História do Hospital” de Jean-Noël Fabiani
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