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O que está por trás do plano chinês de enviar tijolos ao espaço

Ilustração criada por inteligência artificial com prompt do editor

Várias amostras de peças de diferentes composições serão submetidas a condições extremas, semelhantes às da Lua

A China enviou, na sexta-feira, 15, amostras de tijolos ao espaço em um foguete, para submetê-las a testes e determinar se seria possível construir uma base na Lua fabricando outros tijolos com o próprio solo lunar. O foguete de carga decolou rumo à estação espacial chinesa Tiangong, que orbita entre 400 e 450 km da Terra, no contexto da missão de enviar seres humanos à Lua até 2030 e construir uma base permanente no satélite em 2035.

Várias amostras de tijolos de diferentes composições serão submetidas a condições extremas, semelhantes às da Lua. “O principal objetivo é expô-los ao espaço”, declarou à agência AFP Zhou Cheng, professor da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan, cujo time de pesquisadores desenvolveu os tijolos. “Colocaremos os tijolos fora da estação espacial e os deixaremos expostos aos elementos para ver se o desempenho deles se deteriora ou não”, explicou.

China tem planos de construir uma base permanente na Lua em 2035.
China tem planos de construir uma base permanente na Lua em 2035. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Qualquer material na Lua terá que suportar condições extremas, começando pelas drásticas variações de temperatura, que podem ir de -190 ºC a +180 ºC.

Além disso, a Lua não possui uma atmosfera para protegê-la, por isso recebe grandes quantidades de radiação cósmica e micrometeoritos. Os sismos lunares também podem enfraquecer as estruturas construídas sobre o solo lunar.

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Tijolos de ‘Lego’

Zhou Cheng e seus colegas desenvolveram uma técnica que permite fabricar diferentes tipos de tijolos com materiais disponíveis na Terra, como o basalto. A equipe se inspirou no material recolhido pela sonda chinesa Chang’e 5, que, no final de 2022, foi a primeira missão do mundo em quatro décadas a trazer de volta solo lunar.

Esses tijolos, de cor preta, são três vezes mais resistentes que tijolos padrão e podem ser encaixados uns nos outros, eliminando a necessidade de aglutinantes, o que seria um desafio na Lua, indicou Zhou Cheng.

Os pesquisadores também projetaram um robô de impressão 3D para construir habitats. “O objetivo no futuro é utilizar recursos in loco, como o solo lunar, para realizar diferentes tipos de construções”, explicou o professor.

Fabricar tijolos diretamente na Lua é algo que “evidentemente precisa ser tentado”, pois “é muito mais barato usar materiais disponíveis no local do que ter que enviá-los da Terra”, afirmou à AFP Jacco van Loon, professor de astrofísica na Universidade de Keele, no Reino Unido.

O experimento chinês “tem muitas chances de sucesso e os resultados pavimentarão o caminho para a construção de bases lunares”, considerou.

Outros países que também buscam construir uma base lunar estão tentando criar tijolos que imitem o solo do satélite natural da Terra.

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No âmbito do programa Artemis da Nasa, que espera levar novamente seres humanos à Lua em 2026, pesquisadores da Universidade da Flórida Central estão testando tijolos fabricados com impressoras 3D. A Agência Espacial Europeia (ESA) realizou estudos sobre como montar tijolos inspirados na estrutura das peças de Lego.

A iniciativa da China, chamada Estação Internacional de Pesquisa Lunar (ILRS, na sigla em inglês), é um projeto conjunto com a Rússia. A China investiu bilhões de dólares em seu programa espacial nas últimas décadas, com o objetivo de alcançar Estados Unidos e Rússia.

Participam do projeto uma dezena de países, entre eles Venezuela, Tailândia, Paquistão e Senegal, além de cerca de quarenta organizações estrangeiras, segundo informações de veículos oficiais. / AFP

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