Atemporal

O yakissoba nasceu na 2ª Guerra como alternativa ao arroz no Japão

A escassez forçou o Império a aceitar o macarrão na dieta, à moda dos vizinhos chineses.

Os EUA ocuparam a ilha de Okinawa do final da 2ª Guerra até 1972. No final do conflito, os militares forneceram à população faminta seus suprimentos: salsicha, ketchup, legumes em conserva, macarrão e Spam – uma carne de porco enlatada. Os japoneses misturaram tudo na frigideira e voilà: nasceu o yakissoba de Okinawa.

Essa é a versão extrema do yakissoba, que nasceu como improviso na 2ª Guerra ou um pouco antes. O nome significa “macarrão de soba frito” – “soba” é trigo-sarraceno em japonês. Até o século 20, carboidrato, no Japão, era só arroz. Macarrão era na China. Mas o racionamento de arroz fez o consumo de trigo aumentar de 1,1 para 3,6 bilhões de kg anuais entre 1934 e 1955, e catalisou o surgimento de lámens e yakissobas.

A primeira encarnação do que um brasileiro reconheceria como yakissoba surgiu na mão de chineses na Califórnia na virada dos séculos 19 e 20, que criaram o chop suey, um macarrão frito com carne e vegetais picados. Eles faziam adaptações das receitas da província de Cantão – que abriga só uma dentre as oito grandes tradições culinárias da China.

A comida chinesa do Brasil lembra esse crossover cantonês-americano. Não à toa, alguns restaurantes chineses não usam a palavra em japonês. Por exemplo: no Hi Pin Shan, fundado em 1984 em São Paulo, é macarrão chop suey.

Abaixo, vamos nos ater ao nome japonês, e dar uma típica receita japonesa (não a de Okinawa, rs):


A receita
(Rendimento: 4 porções)

Ingredientes
400 g de macarrão soba (massa do leste asiático feita com trigo-sarraceno, dá para encontrar em mercados comuns. São 100 g por pessoa, aproximadamente);

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1 cebola picada e 1 cenoura, em rodelas;

Repolho (vai no olhômetro);

200 g de barriga de porco fatiada fina;


Molho usuta sosu (versão japonesa do molho inglês, espessa e adocicada. Às vezes é vendido só como “molho para yakissoba”; uma marca japonesa disponível no Brasil é a Otafuku);

Aonori (alga em pó) para salpicar;

Beni shōga (picles de gengibre) em tiras para decorar.


Modo de preparo
1 – Ferva água e cozinhe o macarrão. Deixe o ponto al dente – ele precisa ficar durinho para acabar de cozinhar no molho, quando for para a frigideira.. Adicione um pouco de óleo e misture para o macarrão não grudar.

2 – Em uma frigideira grande, frite a barriga de porco. Quando as fatias estiverem pegando cor, adicione a cebola, o repolho e a cenouras (pré-cozidas para ficarem molinhas). Adicione um pouco de óleo caso a gordura da barriga de porco não seja suficiente.

3 – Adicione o macarrão, o molho e misture tudo agitando a frigideira. Deixe o macarrão acabar de cozinhar no molho, e ajuste o sal se necessário (o molho já é salgado). Salpique a alga e o picles de gengibre ao servir.

Dica do chef: a barriga de porco é só uma opção comum no Japão. Mas você pode adicionar quaisquer proteínas: carne de boi, carne de frango e até cogumelos shitake ou shimeji – essa é uma comida de rua, preparada de maneira diferente em cada barraquinha.

Consultamos: livro Cozinha japonesa moderna: comida, poder e identidade nacional, de Katarzyna K. Cwiertka.

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