Milionário Suíço Transforma Sertão Paraibano em Modelo de Agricultura Sustentável


Do conselho da Novartis ao sertão paraibano: o legado sustentável de Pierre Landolt

Herdeiro do império farmacêutico Sandoz, o franco-suíço Pierre Landolt trocou os bastidores da indústria global por uma fazenda no sertão da Paraíba. Desde 1977, ele cultiva mangas e outros produtos orgânicos na Fazenda Tamanduá, adotando a agricultura biodinâmica em 3 mil hectares. Ex-membro do conselho da Novartis e um dos responsáveis pela criação da Syngenta, Landolt encontrou no semiárido brasileiro um propósito diferente: promover desenvolvimento sustentável e conservar o meio ambiente com práticas pioneiras no agronegócio brasileiro.


No interior da Paraíba, próximo ao município de Patos, um personagem inusitado com sotaque europeu se mistura à paisagem do sertão. Trata-se de Pierre Landolt, empresário franco-suíço e herdeiro da família fundadora do grupo Sandoz — base da Novartis e da gigante agrícola Syngenta. Desde 1977, ele comanda a Fazenda Tamanduá, onde aplica princípios da agricultura biodinâmica em uma área de 3 mil hectares.

A ligação de Landolt com o Brasil começou em 1975, quando, aos 29 anos, deixou a França após servir ao exército como paraquedista e se formar em Direito. Inicialmente, desejava atuar em algum país da Ásia pela Sandoz, mas acabou sendo transferido para o Brasil — uma decisão que mudou o rumo de sua vida. Ao chegar a São Paulo, passou por diversas áreas da companhia, conheceu o interior do país e se encantou com o sertão paraibano durante uma busca por áreas para o plantio de sene, planta medicinal então em falta no mercado global.

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Encantado pela cultura local e pelas possibilidades do semiárido, Landolt comprou, em 1977, uma área no município de Santa Terezinha. Ao lado da esposa, também francesa, estabeleceu ali sua residência e iniciou um projeto voltado para a produção agropecuária sustentável.

A Fazenda Tamanduá reserva mais da metade de seu território para áreas preservadas, corredores ecológicos e uma Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN). Nos demais espaços, cultiva frutas, principalmente mangas, além de produzir leite, queijo, mel e própolis. Toda a produção segue os princípios da agricultura biodinâmica — método fundado por Rudolf Steiner — e é certificada como orgânica.

Seleção da fazenda Tamanduá (Foto: AgFeed)

O cultivo inicial de algodão foi substituído após a chegada do bicudo nos anos 1980. Landolt então investiu em frutas tropicais, como manga das variedades Tommy e Keith, destinadas à exportação. Atualmente, exporta cerca de mil contêineres por ano, o equivalente a 19,2 mil toneladas, principalmente para o mercado europeu. As mangas são colhidas em áreas com espaçamento tradicional e adensado, este último com produtividade de até 30 toneladas por hectare.

O empresário está em processo de parceria com a TopLink, braço logístico da Agrícola Famosa, para exportar 100% da produção via breakbulk. Segundo ele, a certificação orgânica garante preços superiores no mercado europeu — até 6 euros por caixa de 4 quilos —, valor bem acima do praticado no Brasil com frutas convencionais.

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Mesmo distante do universo corporativo, Landolt continua atento ao impacto de sua atuação. Durante décadas, participou do conselho da Novartis e acompanhou de perto a criação da Syngenta, resultado da fusão entre Novartis Agribusiness e Zêneca Agrícola em 2000. Em 2017, a Syngenta foi adquirida pela estatal chinesa ChemChina por US$ 43 bilhões.

“Me apaixonei pelo sertão e percebi que poderia contribuir com tecnologia e conhecimento. A agricultura biodinâmica me mostrou um caminho mais harmônico e sustentável”, resume Landolt, que há quase meio século transformou uma região do semiárido em um exemplo de produtividade consciente.


Redação com informações da AgFeed

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