Pesquisadores exploram a possibilidade de criar truques de mágica baseados apenas em som, buscando iludir o sentido auditivo de forma tão surpreendente quanto as ilusões visuais
Feche os olhos e imagine o som de uma voz que começa à sua esquerda, movendo-se suavemente para trás de você, e depois para a direita. Em uma volta completa, a voz repentinamente muda de lugar, de forma inesperada. Esse é o conceito da ilusão auditiva vencedora de um concurso recente, anunciado em 13 de novembro. A competição, organizada por pesquisadores na Inglaterra, propôs o desafio de criar um truque de mágica baseado unicamente no som, sem qualquer elemento visual, para responder a uma pergunta intrigante: seria possível testemunhar mágica através da audição?
“Imagine um mundo onde você nunca ouviu música”, sugere o mágico e psicólogo Gustav Kuhn, da Universidade de Plymouth. Kuhn, que utiliza a mágica para estudar a mente humana, compara a experiência sonora para deficientes visuais ao encanto da música para alguém que nunca a ouviu. Seu interesse por mágica auditiva foi despertado por Tyler Gibgot, um aluno com deficiência visual, que durante a infância assistia a apresentações de mágica nas festas dos amigos, mas, sem poder ver os truques, só percebia a reação deles. Isso o incentivou a aprender truques de cartas e a estudar ciência cognitiva, levando-o a colaborar com Kuhn.
A competição visa tornar a mágica mais inclusiva para pessoas como Gibgot e, ao mesmo tempo, explorar cientificamente a ausência de truques baseados em som. Segundo Kuhn, a diferença entre o uso dos sentidos pode ser explicada pela forma como processamos visão e audição. “Não sabemos por que essa diferença existe”, ele admite, observando que a visão fornece informações contínuas, enquanto o som é mais fugaz e transitório. “Se um coelho aparece e desaparece, isso é mágico; já sons que surgem e somem constantemente não causam o mesmo efeito”, explica.
Truques convencionais que utilizam som — como tocar um sino que não emite som — costumam ser reforçados por outros sentidos ou pela linguagem. Todos os 11 truques inscritos na competição envolveram algum uso de palavras, e Kuhn acredita que uma ilusão auditiva sem linguagem talvez seja inviável.
Para o próximo ano, Kuhn planeja expandir o concurso, incluindo outros sentidos além do som, na esperança de estimular propostas ainda mais criativas. O projeto de mágica não visual “traz uma sensação de empoderamento para pessoas como eu”, afirma Gibgot, refletindo o impacto inclusivo dessa iniciativa.
Neste ano, três mágicos independentes que submeteram truques com o mesmo princípio dividirão o prêmio de 200 dólares.
Redação com informações de Science News