Cientistas do Trinity College Dublin desenvolveram um novo modelo cognitivo que combina ciência do cérebro e práticas reais, oferecendo estratégias inovadoras para a criação e mudança de hábitos. Este modelo pode ser extremamente útil para entender como formar e quebrar hábitos.
Pesquisadores da Trinity College Dublin publicaram um estudo revolucionário que promete transformar a forma como hábitos são criados e eliminados. O trabalho, liderado pelo Dr. Eike Buabang, do laboratório da Professora Claire Gillan, na Escola de Psicologia, apresenta um modelo inovador para promover mudanças comportamentais eficazes e duradouras. O artigo foi publicado na revista Trends in Cognitive Sciences sob o título Leveraging cognitive neuroscience for making and breaking real-world habits, destacando como formar e quebrar hábitos.
A ciência por trás dos hábitos
Segundo o Dr. Buabang, os hábitos desempenham um papel fundamental no dia a dia, desde a preparação do café pela manhã até o trajeto para o trabalho. “Nosso estudo revela por que esses comportamentos automáticos são tão poderosos e como podemos usar os mecanismos cerebrais para mudá-los”, explica o pesquisador. A pesquisa reúne décadas de estudos laboratoriais e do mundo real para compreender como o cérebro humano forma e altera hábitos.
Dois sistemas cerebrais principais moldam nossos hábitos:
Respostas automáticas: Acionadas por estímulos familiares, como pegar o celular ao sentir tédio.
Controle orientado por objetivos: Permite ações conscientes, como guardar o celular para se concentrar no trabalho. Este equilíbrio é chave em como formar e quebrar hábitos.
O desequilíbrio entre esses sistemas é crucial. Quando respostas automáticas superam o controle consciente, surgem erros cotidianos, como digitar uma senha antiga. Em casos extremos, esse desequilíbrio pode gerar comportamentos compulsivos, presentes em transtornos obsessivo-compulsivos, dependência química e distúrbios alimentares.
Trabalhando em harmonia com a forma como nosso cérebro naturalmente forma hábitos, podemos criar estratégias que tornem escolhas saudáveis automáticas, tanto no nível individual quanto no societal
Tornando hábitos mais maleáveis
O novo modelo sugere formas de equilibrar os sistemas cerebrais e transformar hábitos:
- Repetição e reforço: Repetir comportamentos fortalece associações entre estímulos e respostas, enquanto recompensas aumentam a probabilidade de repetição. Para abandonar hábitos indesejados, é possível substituir comportamentos antigos por novos, criando respostas concorrentes ao formar e quebrar hábitos.
- Ambiente: Ajustar o espaço físico facilita a adoção de hábitos positivos e dificulta comportamentos indesejados, eliminando gatilhos.
- Engajamento consciente: Estratégias como ouvir música durante exercícios ajudam na formação de novos hábitos. No entanto, estresse, pressa e cansaço podem reativar padrões antigos, exigindo intencionalidade e atenção.
Aplicações práticas
A pesquisa também sugere o uso de estratégias como planos “se-então” (“se X ocorrer, então farei Y”) e terapias clínicas, incluindo exposição gradual, reversão de hábitos e até estimulação cerebral. Segundo Dr. Buabang, o framework desenvolvido não apenas reúne intervenções existentes, mas também aponta caminhos para a criação de novas abordagens, mostrando como formar e quebrar hábitos de maneira eficiente.
Além disso, o estudo destaca a importância da personalização dos tratamentos. “Dependendo da neurobiologia de cada pessoa, pode ser mais eficaz evitar gatilhos do que focar na redução do estresse ou reorganizar a rotina”, afirma a Professora Gillan.
Impactos além do indivíduo
Os achados também têm implicações em saúde pública. Ao compreender o papel do cérebro na formação de hábitos, formuladores de políticas podem desenvolver campanhas mais eficazes para incentivar hábitos saudáveis, como prática de exercícios e redução do consumo de açúcar.
“Trabalhando em harmonia com a forma como nosso cérebro naturalmente forma hábitos, podemos criar estratégias que tornem escolhas saudáveis automáticas, tanto no nível individual quanto no societal”, conclui a Professora Gillan. Este estudo evidencia como formar e quebrar hábitos pode ser benéfico para a saúde pública.
Texto adaptado de Trinity College Dublin e revisado pela nossa redação. Para ler o artigo original : https://www.cell.com/trends/cognitive-sciences/fulltext/S1364-6613(24)00266-3