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Produções Evangélicas Ganhando Espaço nas Plataformas de Streaming

As plataformas de streaming, como Netflix e Globoplay, estão ampliando seu catálogo com conteúdos voltados para o público evangélico. Séries e filmes de temática cristã estão se tornando mais acessíveis e populares, refletindo uma mudança no consumo de entretenimento religioso e na representatividade desse grupo no Brasil.


Produções evangélicas estão encontrando nas plataformas de streaming um terreno fértil para alcançar um público cada vez maior. Essa tendência, que já vinha sendo observada há alguns anos, tem ganhado força com a inclusão de séries e filmes de temática cristã em serviços como Netflix e Globoplay.

Há dez anos, quando o filme “Deus Não Está Morto” foi disponibilizado no Netflix no Brasil, ele se tornou um dos tópicos mais discutidos entre os amigos de Rafael Reis, um técnico de TI e membro de uma igreja batista em São Paulo. Naquela época, conteúdos voltados para o público cristão eram raros na plataforma, que ainda não era muito popular entre os seus conhecidos.

Desde então, Rafael notou um aumento na adesão aos serviços de streaming entre seus amigos, embora a oferta de produções cristãs não acompanhasse o mesmo ritmo. Nos últimos anos, contudo, ele percebeu que tem sido mais fácil encontrar filmes e séries voltados para pessoas como ele.

Jonathan Roumie como “Jesus” no episódio 4 de The Chosen: The Rock on Which it is Built.

A série “The Chosen” (“Os Escolhidos”, em tradução livre), disponível na Netflix e na Globoplay, é um exemplo desse fenômeno. A produção, que narra a história de Jesus sob a perspectiva dos apóstolos, conquistou 770 milhões de telespectadores ao redor do mundo, destacando-se pela sua abordagem descontraída da figura religiosa.

Segundo Andrey Albuquerque Mendonça, pesquisador e professor de Humanidades Digitais na ESPM, houve uma mudança na relação entre o sagrado e o mundano no entretenimento. “Hoje, essa fronteira se torna cada vez mais porosa”, afirma Mendonça, indicando que o conteúdo religioso está se tornando parte do cotidiano de uma forma mais natural.

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Rafael ainda está assistindo à terceira temporada de “The Chosen” com sua namorada, que já terminou de ver os episódios por conta própria. As plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime e Globoplay, não divulgam dados detalhados de audiência, mas a presença de conteúdo religioso é evidente.

Em abril, o filme “Eu Só Posso Imaginar” foi o oitavo mais assistido na Netflix. Baseado na vida do cantor gospel Bart Millard, o filme foi adicionado ao catálogo da plataforma em 2024 e rapidamente conquistou o público. Outras produções recentes incluem “Cartas para Deus” e “Testamento — A História de Moisés”.

Além das produções internacionais, o conteúdo nacional também tem ganhado destaque. Exemplos são o filme “No Ritmo da Fé” e uma palestra com o pregador Deive Leonardo. A Netflix agrupa esses e outros conteúdos sob a categoria “fé e espiritualidade”, que inclui ainda produções para espíritas e católicos.

A pesquisadora Lívia Reis, coordenadora de Religião e Política no Iser, observa que essa inclusão reflete uma disputa antiga por espaço na cultura nacional. “Com a explosão do pentecostalismo no final dos anos 1980, houve também uma explosão no mercado de bens simbólicos, incluindo música e produções audiovisuais”, explica.

O aumento do conteúdo evangélico nos streamings é visto como uma resposta à demanda do público e uma forma de mediação tecnológica para o sagrado. Reis aponta que a tecnologia digital tem mudado a forma como as pessoas vivem sua religiosidade, ampliando o conceito de igreja para além dos cultos e templos.

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Para o pastor Sergio Dusilek, produções de entretenimento têm valor quando convidam à reflexão, sem descaracterizar o conteúdo bíblico. Ele destaca que os meios digitais têm ocupado um espaço significativo na educação e formação religiosa, especialmente durante a pandemia.

O fenômeno é percebido até na recomendação de séries e filmes por pastores, o que antes era incomum. A diarista Rose de Lima, por exemplo, vê esses conteúdos como uma forma de mostrar à sua filha que a vida religiosa pode ser cheia de alegria e diversão.

A série “The Chosen” também atraiu católicos, como a estudante Maria Clara Melo, que aprecia a maneira acessível com que a produção encena os acontecimentos bíblicos. Financiada pelos próprios fãs, a série vendeu 274 mil ingressos no Brasil e arrecadou R$ 5,9 milhões na semana de estreia.

Samuel Costa Melo, da Assembleia de Deus no Ceará, acredita que o conteúdo gospel tem um impacto profundo, tocando o emocional do público. Ele nota que as produções evangélicas estão se profissionalizando e ganhando qualidade, o que atrai um público mais amplo e exigente.

A expansão desse mercado é acompanhada de perto por consultores religiosos, que ajudam a garantir uma representação justa e sem preconceitos nos documentários e novelas. Produções como “Evangelicos”, na Globoplay, e a novela “Vai na Fé” são exemplos de como a inclusão de consultores pode enriquecer a narrativa e aproximar-se mais da realidade vivida pelos evangélicos.

Em resumo, as plataformas de streaming estão reconhecendo e atendendo a demanda crescente por conteúdo religioso, proporcionando uma nova forma de viver a espiritualidade através do entretenimento.

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