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Retrato da Pobreza durante a Ditadura: O Lado Oculto do Estudo do Consumo Familiar no Brasil

Durante os anos 1974 e 1975, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou uma pesquisa abrangente sobre os hábitos de consumo das famílias brasileiras. Conhecido como Estudo Nacional de Despesa Familiar (Endef), esse projeto pioneiro buscou compreender melhor os padrões alimentares e de gastos das famílias em todo o país.

Uma das características marcantes do Endef foi a inclusão de um espaço para relatos pessoais dos pesquisadores, permitindo um registro detalhado das condições de vida das famílias entrevistadas. Estes relatos revelaram uma realidade marcada pela pobreza extrema, fome e sérios problemas de saúde, contrastando com o cenário de suposto progresso econômico durante a Ditadura Militar.

Apesar da importância desses registros, parte das descobertas do Endef foi mantida em sigilo, levantando suspeitas de censura durante o regime autoritário. Embora não haja evidências claras de interferência direta, a decisão de restringir a divulgação pode ter sido influenciada pela brutalidade das informações registradas e pelas pressões políticas da época.

O estudo do consumo familiar durante a Ditadura revelou uma faceta pouco conhecida da história do Brasil, destacando a importância do IBGE como um observador crítico da realidade socioeconômica do país. Após o período de autoritarismo, a instituição passou por um processo de democratização e transparência, consolidando seu papel como uma fonte confiável de dados estatísticos para a sociedade brasileira.

Citação da Fonte: Mariana Schreiber, “Famílias famintas e mães desdentadas: o retrato da miséria na ditadura que ficou ‘escondido’ nos arquivos do IBGE”, BBC News Brasil, 31 de março de 2024.

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