Homens com risco de doenças cardiovasculares podem desenvolver demência até dez anos antes das mulheres com o mesmo perfil, de acordo com uma nova pesquisa publicada no Journal of Neurology, Neurosurgery & Psychiatry. O estudo analisou dados de mais de 34 mil pessoas entre 45 e 82 anos, fornecidos pelo UK Biobank, e revelou como fatores de risco cardíacos impactam a saúde cerebral.
Impacto do Risco Cardiovascular na Saúde Mental
“A influência de doenças cardiovasculares no desenvolvimento de demência em homens, uma década antes das mulheres, é uma descoberta inédita”, afirmou o Dr. Paul Edison, professor de neurociência do Imperial College London e autor principal do estudo. Edison ressaltou a importância da descoberta para a saúde pública e defendeu a necessidade de intervenções precoces, especialmente em homens.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte global, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nos Estados Unidos, o coração tem sido o “assassino número um” por mais de 100 anos. Entre os fatores de risco estão obesidade, diabetes, pressão alta, colesterol elevado, tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo e privação de sono, segundo o CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA). Todos esses elementos podem levar a doenças nos pequenos vasos sanguíneos, prejudicando o transporte de oxigênio ao cérebro.
Associação com o Gene APOE ε4 e Estilo de Vida
O estudo constatou que os efeitos dos riscos cardiovasculares são semelhantes tanto em pessoas que carregam o gene APOE ε4, associado ao Alzheimer, quanto naquelas que não possuem o gene. O Dr. Edison destacou que o estilo de vida saudável é crucial para prevenir o Alzheimer, independentemente da predisposição genética. “Modificações nos riscos cardiovasculares devem começar uma década antes nos homens, mesmo que não apresentem o gene de risco”, enfatizou.
O epidemiologista Jingkai Wei, da Universidade do Texas, reforçou que a saúde cardiovascular precária está relacionada ao comprometimento cognitivo e à neurodegeneração cerebral, ambos preditores de demência.
Gordura Abdominal e Volume Cerebral
O estudo também investigou o papel da gordura abdominal e visceral no declínio cognitivo. Utilizando uma técnica de neuroimagem chamada Voxel-Based Morphometry (VBM), os pesquisadores identificaram que a gordura visceral, mais prevalente nos homens, está associada a uma redução no volume da matéria cinzenta do cérebro, área responsável pelo processamento de informações.
As regiões cerebrais mais afetadas incluem aquelas relacionadas à memória, audição, visão e processamento emocional, todas vulneráveis nos estágios iniciais de demência e Alzheimer.
O Papel do Estilo de Vida e a Importância da Prevenção Precoce
Wei destacou a importância de adotar medidas preventivas na meia-idade, como controle da pressão arterial, colesterol, açúcar no sangue, prática regular de exercícios, alimentação saudável e abandono de hábitos prejudiciais, como o consumo de álcool e tabaco. “O momento ideal para agir é a meia-idade, pois os riscos vasculares nesse período são associados a uma maior probabilidade de demência”, disse.
Diferenças de Gênero na Suscetibilidade
Homens parecem ser mais suscetíveis aos riscos cardiovasculares entre 55 e 74 anos, enquanto nas mulheres o risco aumenta após os 65 anos. Essa diferença pode ser explicada por fatores hormonais, como o papel protetor do estrogênio nas mulheres antes da menopausa. Já os homens apresentam níveis mais elevados de testosterona, que contribuem para o aumento do colesterol ruim (LDL) e o risco de coágulos.
Além disso, os homens tendem a consumir mais alimentos ricos em gorduras saturadas, sal e carne vermelha, além de serem mais propensos ao uso de tabaco e álcool. A localização da gordura corporal também faz diferença: enquanto os homens acumulam gordura visceral, associada a maior risco cardiovascular, as mulheres concentram gordura subcutânea, ao redor dos quadris.
Para Edison, a modificação precoce da dieta e do estilo de vida nos homens é fundamental para reduzir o risco de doenças cardíacas, obesidade e, consequentemente, demência. “A influência dos problemas cardíacos e da obesidade na degeneração cerebral é mais evidente ao longo de vinte anos nos homens do que nas mulheres”, afirmou.
Texto raduzido e adaptado de CNN e revisado pela nossa redação.