A nimesulida, um dos anti-inflamatórios mais populares no Brasil, está proibida em diversos países, incluindo os Estados Unidos, devido aos riscos significativos à saúde. O medicamento, que combina ação analgésica, anti-inflamatória e antipirética, é amplamente utilizado para o alívio de dores e febres, mas estudos apontam que seu uso pode estar associado a danos hepáticos graves, levando até a casos de insuficiência hepática.
Apesar de seu sucesso comercial, com milhões de unidades vendidas anualmente no Brasil, a substância é alvo de crescente preocupação entre especialistas e órgãos reguladores. Enquanto países como Canadá, Japão, Espanha e Irlanda retiraram o medicamento do mercado, a nimesulida continua disponível em território brasileiro, levantando questionamentos sobre segurança, fiscalização e cultura da automedicação.
Popularidade e riscos da nimesulida
A nimesulida faz parte da classe dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e se destaca pela sua rápida ação no alívio de inflamações e dores. No Brasil, sua popularidade se deve, em grande parte, à sua eficácia e fácil acesso. Apenas em um único ano, mais de 102 milhões de caixas do medicamento foram vendidas, evidenciando sua alta demanda entre os brasileiros.
Contudo, a eficácia do remédio não isenta seus riscos. A principal preocupação da comunidade médica está nos efeitos adversos ao fígado, que podem surgir mesmo em tratamentos de curta duração. Os sintomas relatados incluem náuseas, vômitos, tontura e reações alérgicas. Em casos mais graves, há relatos de hepatite medicamentosa e falência hepática, podendo levar à necessidade de transplante de fígado.
Um estudo recente analisou 468 casos de lesões hepáticas induzidas por medicamentos na América Latina e apontou a nimesulida entre os fármacos com os piores prognósticos, aumentando a pressão para a revisão de sua segurança.
Por que os Estados Unidos proibiram a nimesulida?
A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, nunca aprovou a nimesulida para uso no país. A decisão foi baseada em evidências científicas que demonstram o risco elevado de hepatotoxicidade, ou seja, toxicidade hepática causada pelo medicamento. Estudos mostraram que a substância pode levar à falência hepática, mesmo quando utilizada dentro das doses recomendadas.
A proibição da nimesulida não se restringe aos EUA. Na Irlanda, por exemplo, o medicamento foi retirado do mercado em 2007 após múltiplos relatos de insuficiência hepática grave. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), responsável pela regulamentação de medicamentos na União Europeia, impôs restrições severas ao uso da substância, limitando sua prescrição apenas a casos específicos e por períodos curtos de tempo.
Nimesulida no Brasil: falta de fiscalização e riscos da automedicação
Ao contrário dos países que baniram o medicamento, o Brasil continua permitindo sua comercialização. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exige prescrição médica para sua compra, mas a fiscalização sobre sua venda ainda é falha. Muitos consumidores adquirem o remédio sem orientação médica adequada, o que aumenta os riscos de uso indiscriminado.
O hepatologista Raymundo Paraná alerta que a cultura do autodiagnóstico e o consumo excessivo de anti-inflamatórios sem acompanhamento médico são fatores que agravam o problema. “As pessoas tomam esses medicamentos como se fossem analgésicos inofensivos, mas esquecem dos danos potenciais ao fígado, rins e sistema cardiovascular”, enfatiza o especialista.
A falta de campanhas educativas e de regulamentações mais rígidas contribui para a permanência da nimesulida no mercado brasileiro, mesmo com as evidências de seus riscos.
Alternativas mais seguras para dor e inflamação
Diante das preocupações crescentes, especialistas recomendam substituições mais seguras para o tratamento de dor e inflamação. O paracetamol e a dipirona, por exemplo, são frequentemente indicados como opções menos prejudiciais ao fígado quando administrados corretamente.
Além disso, é essencial que qualquer medicamento seja utilizado sob orientação médica, evitando a automedicação e seus potenciais efeitos adversos.
A continuidade do uso da nimesulida no Brasil levanta um alerta importante sobre a necessidade de maior regulação e conscientização sobre os riscos de sua toxicidade. O histórico de proibição em diversos países reforça que, embora eficaz, o medicamento pode representar sérias ameaças à saúde.
O debate sobre sua segurança e permanência no mercado deve ser conduzido com transparência, levando em consideração as evidências científicas e a proteção dos consumidores. Até que medidas mais rigorosas sejam adotadas, a responsabilidade recai sobre médicos e pacientes para garantir que o uso do medicamento seja feito com cautela e conhecimento de seus riscos.
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Com informações de InfoMoney