Obras retratam cenas do Rio de Janeiro pintadas à mão por Johann Jacob Steinmann entre 1834 e 1835. Elas estavam com colecionador brasileiro e teriam sido compradas em Londres
A Polícia Federal recuperou uma obra rara furtada da biblioteca Mário de Andrade, na capital paulista, em 2008. Trata-se de gravuras brasileiras do livro “Souvenirs de Rio de Janeiro”, pintado à mão por Johann Jacob Steinmann entre 1834 e 1835. Elas estavam com um colecionador brasileiro, que teria comprado a obra legalmente numa casa de leilões em Londres A obra será submetida à perícia e, depois, devolvida à cidade de São Paulo para que possa ficar novamente à disposição dos brasileiros.
A obra foi recuperada nesta segunda-feira, graças à cooperação policial internacional entre o adido da Polícia Federal no Reino Unido e a Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard).
Na época, a biblioteca informou que as gravuras haviam sido retiradas com estilete. Elas mostram paisagens cariocas, dos bairros de Santa Teresa e Botafogo, da praia Vermelha e a cidade de Nova Friburgo.
Na época do furto, o então diretor da biblioteca Mário de Andrade, Luís Francisco Carvalho Filho, encaminhou à Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal), que atua em crimes internacionais, um disquete com as imagens levadas.
Além de 12 imagens de Johann Jacob Steinmann, reunidas no livro, foram roubadas 58 gravuras de Johan Moritz Rugendas, 42 de Jean Baptiste Debret, três de Karl Hermann Konrad Burmeister e um livro de orações, em pergaminho, datado de 1501. Os furtos só foram descobertos quando um funcionário tentou retirar a publicação a título de empréstimo e viu que faltavam imagens. Um levantamento mostrou que o prejuízo era grande.
Também foram retiradas com estilete 38 litografias da obra ‘Voyage pittoresque et historique au Brésil’, de Debret.
Parte das obras furtadas da Biblioteca Mário de Andrade já havia sido recuperada. Quatro desenhos de José Wasth Rodrigues foram encontrados no Rio de Janeiro, pela Polícia Federal, e devolvidas à biblioteca. Outras 14 obras foram devolvidas por colecionadores que as adquiriram em um leilão ocorrido no Rio semanas após o roubo. Na feira de antigüidades do Masp apareceu outra parte dos livros roubados.
As peças foram produzidas nos séculos 18 e 19 e estavam nos fundos da biblioteca. Poucas pessoas tinham acesso ao local, o setor de obras raras da biblioteca. Na época, não foram identificados sinais de arrombamento, o que levou à suspeita de participação de funcionários no crime.
A Polícia Federal ressaltou que é seu papel atuar na salvaguarda do patrimônio cultural brasileiro, na localização e recuperação de obras de arte roubadas ou vendidas irregularmente. “A repatriação das obras literárias representa um marco fundamental para o Brasil, demonstrando um compromisso renovado com a preservação do patrimônio cultural e estabelecendo um precedente essencial para a recuperação de elementos históricos”, afirmou a Polícia Federal, em nota.
Relembre outros roubos de obras de arte
Entre 2006 e 2008, o patrimônio cultural de São Paulo foi alvo de criminosos por pelo menos quatro vezes. Além da Biblioteca Mário de Andrade, foram roubadas duas telas do Museu de Arte de São Paulo (Masp), telas da Estação Pinacoteca e peças do Museu de Arte Sacra dos Jesuítas de Embu e do Museu do Ipiranga.
Em setembro de 2006, três homens armados levaram cinco coroas de prata e ouro e outras peças do século XVII do Museu de Arte Sacra dos Jesuítas de Embu, na Grande São Paulo.
Em agosto de 2007 foi descoberto o roubo de cerca de 900 cédulas e moedas do acervo do Museu do Ipiranga. As peças faziam parte de coleções como a história do dinheiro nacional e Notgeld, que reúne notas e moedas alemãs e austríacas. Um mês depois, 106 peças foram devolvidas à polícia por antiquários que compraram sem saber que eram roubadas.
Do Masp, na avenida Paulista, foram roubaram duas pinturas em dezembro de 2007: “O lavrador de café”, de Cândido Portinari, e “Retrato de Suzanne Bloch”, de Pablo Picasso. O museu foi invadido e não possuia alarme nas portas arrombadas. As duas obras, avaliadas em US$ 55 milhões, foram recuperadas numa casa simples em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Quatro pessoas foram presas.
Em 2008, a Estação Pinacoteca, uma extensão da Pinacoteca de São Paulo, no bairro da Luz, foi assaltada por três homens armados. Foram levadas a obra “Mulheres na janela” (1926), de Di Cavalcanti; duas gravuras do pintor espanhol Pablo Picasso, “O pintor e seu modelo” (1963) e “Minotauro, bebedor e mulheres” (1933), e um guache de Lasar Segall, “Casal” (1919). Todas foram recuperadas.
Fonte: O Globo, reprodução