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Crescimento da Campanha de Trump Preocupa Governo com Possível Energização do Bolsonarismo

Apoiador de Jair Bolsonaro com bandeira de Trump em Buenos Aires, na posse de Javier Milei - Cezaro de Luca - 10.dez.23/AFP

A campanha fortalecida de Trump após debate presidencial gera temor no governo Lula sobre possível revitalização do bolsonarismo no Brasil.

A recente intensificação da candidatura de Donald Trump, impulsionada pelo debate presidencial americano na quinta-feira (27), tem causado apreensão no Palácio do Planalto. O governo brasileiro teme que um possível retorno de Trump à Casa Branca possa fortalecer a extrema direita no Brasil e revigorar o bolsonarismo, afetando até mesmo o Supremo Tribunal Federal (STF).

Aliados do presidente Lula acreditam que a volta de Trump representaria um empoderamento significativo da extrema direita brasileira. Na noite de quinta-feira, Trump e Biden se enfrentaram em um acalorado debate nos estúdios da CNN em Atlanta, onde Trump pressionou Biden em temas críticos como imigração, conflitos internacionais, pandemia de Covid-19 e aborto. O desempenho insatisfatório de Biden aumentou a pressão para que ele desista de concorrer.

Apesar de reconhecerem que ainda faltam meses para a eleição e que Trump enfrenta desafios políticos e judiciais, membros do governo observaram uma demonstração de fragilidade por parte de Biden no debate.

No mesmo dia do debate, Lula criticou Trump, mencionando o ataque ao Capitólio, e afirmou que figuras como ele não são benéficas para a política. Lula expressou apoio a Biden, destacando a importância de manter uma democracia respeitada nos EUA.

“O Biden é a certeza de que os EUA vão continuar respeitando a democracia. O Trump já deu aquela demonstração quando ele invadiu o Capitólio. Fez lá o que se tentou fazer aqui no Brasil no 8 de janeiro. Como democrata, estou torcendo para que o Biden saia vitorioso. Tenho uma relação sólida com ele e pretendo manter”, disse Lula em entrevista à rádio Itatiaia.

Assessores de Lula minimizaram o impacto das declarações de apoio a Biden, alegando que se justificam pelo risco à democracia representado por Trump. Eles afirmaram que a relação com os EUA não seria mais problemática em um eventual governo Trump, devido à proximidade entre Trump e Bolsonaro.

No entanto, há preocupação de que o fortalecimento de Trump alimente uma nova onda de extrema direita nos EUA e globalmente, fornecendo novo ímpeto ao bolsonarismo, que se enfraqueceu com as investigações sobre o 8 de janeiro de 2023 e a inelegibilidade de Bolsonaro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Assessores traçaram dois cenários para a relação entre Lula e Trump: um otimista, onde temas econômicos prevaleceriam sobre disputas ideológicas, permitindo uma agenda bilateral pragmática; e um pessimista, devido aos vínculos do trumpismo com Bolsonaro e seus aliados.

Políticos americanos pró-Trump criticaram o STF por suposta perseguição a bolsonaristas. Além disso, Elon Musk, apoiador de Trump e dono da rede social X (ex-Twitter), atacou o ministro do STF Alexandre de Moraes, acusando-o de beneficiar Lula.

Esses episódios levaram assessores de Lula a temer uma postura hostil do governo Trump contra o Brasil e o STF. Javier Milei, presidente ultraliberal da Argentina, também poderia adotar uma estratégia mais ideológica na relação com o Brasil.

As dificuldades de Biden no debate foram exploradas por bolsonaristas nas redes sociais, incluindo Eduardo Bolsonaro, que ironizou a idade de Biden.

O governo brasileiro aguarda para entender os próximos passos dos democratas nos EUA e se Biden continuará candidato ou será substituído. Um assessor de Lula citou um tuíte de Barack Obama defendendo Biden, afirmando que “noites ruins de debate acontecem”.

Texto adaptado de Folha de S.Paulo.

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