O PT estabelece alianças estratégicas com partidos de centro-direita em várias cidades, visando fortalecer sua base política e preparar o terreno para a candidatura de Lula em 2026.
Para reforçar a sustentação do governo e impulsionar a candidatura de Lula em 2026, o Partido dos Trabalhadores (PT) tem buscado alianças pragmáticas com partidos de centro-direita nos municípios brasileiros. Em eventos recentes, figuras como Rafael Ribeiro (pré-candidato do União Brasil em Parauapebas, PA), Matheus do Waguinho (Republicanos, em Belford Roxo, RJ) e Keko do Armazém (PP, em Cabo de Santo Agostinho, PE) demonstraram a extensão dessa nova estratégia.
No Congresso, a aliança pragmática é evidente. O deputado Hélio Leite (União Brasil), conhecido por seu voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff e de outras reformas impopulares entre os petistas, agora recebe apoio do PT para sua candidatura à prefeitura de Castanhal (PA). Situações semelhantes ocorrem em Belford Roxo (RJ) e Parauapebas (PA), onde candidatos de partidos tradicionalmente adversários do PT agora compartilham palanques com figuras proeminentes do partido, como Lindbergh Farias e André Ceciliano.
Esse movimento tático tem como objetivo reverter a tendência de queda no número de prefeitos eleitos pelo PT, que caiu de 635 em 2012 para 182 em 2020. A Executiva Nacional do PT já aprovou pré-candidaturas em quase 200 cidades com mais de 100.000 eleitores, abrangendo uma ampla coalizão que inclui 49 nomes de outras legendas, muitas sem identificação com a esquerda, como União Brasil e Republicanos.
A mudança de postura em relação a 2020, quando o PT priorizou candidaturas de esquerda e vetou alianças com partidos como DEM e PSL, reflete uma adaptação à nova conjuntura política. Agora, o partido está disposto a apoiar candidatos de centro-direita para assegurar presença em várias prefeituras, essencial para fortalecer as alianças regionais em preparação para a eleição de 2026. “É melhor apoiar outros candidatos e ter um naco de poder em várias prefeituras do que ficar isolado sem nenhuma influência”, afirmou o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
O deputado federal Jilmar Tatto, secretário nacional do PT, também endossa a nova estratégia, enfatizando que as alianças locais são cruciais para o fortalecimento do partido nos municípios. Gleide Andrade, secretária nacional de Planejamento e Finanças do PT, ressalta que as alianças foram definidas pelos diretórios locais, com exceção de Curitiba, onde a decisão foi centralizada.
A flexibilidade do PT em formar alianças com partidos de diferentes espectros políticos se dá também pela necessidade de enfrentar o crescimento do Partido Liberal (PL) nos municípios e pela fragmentação do sistema partidário brasileiro. Segundo Antonio Lavareda, cientista político, “O PT faz uma corrida de recuperação” para consolidar sua posição.
Além de fortalecer sua base municipal, o PT busca consolidar a aliança que sustenta o governo de Lula em Brasília. A construção de coalizões com partidos capazes de mobilizar votos é vista como essencial para o sucesso futuro do partido. “A necessidade de alianças supera as divergências ideológicas”, observa a professora Isabel Veloso, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O PT, que já ganhou cinco eleições presidenciais, retorna ao poder em um cenário desafiador que exige a superação de antigos dogmas partidários. A eficácia dessa nova abordagem será crucial para recuperar terreno nas cidades e garantir uma base sólida para a campanha de Lula em 2026.
Texto adaptado de VEJA