Tecnologia

VPN tem uso disseminado na China, mas ainda causa riscos a internauta

Em julho, a punição anunciada a um usuário chinês por acessar sites estrangeiros tornou a prática arriscada. As VPNs (redes privadas virtuais), que estão no centro do debate sobre o bloqueio do X no Brasil, são amplamente utilizadas na China, apesar de certos obstáculos. O ministro Alexandre de Moraes estabeleceu uma multa de R$ 50 mil para quem tentar acessar a rede social usando essa tecnologia, uma medida que especialistas veem como impossível de fiscalizar.

Na China, a princípio, não há proibição para o uso desse tipo de sistema, que criptografa os acessos e altera o registro de localização do usuário, embora a regulação não seja clara.

Antes da pandemia, limitações foram impostas, com o fechamento de VPNs locais não autorizadas e a remoção de VPNs internacionais das lojas de aplicativos. No entanto, seu uso é permitido pelas empresas estatais de telecomunicações.

Em foto veiculada em mídia social chinesa, Gong, ao centro, descrito como usuário de internet detido por usar VPN na província de Fujian, em 7 de julho de 2024 – Reprodução/Weibo

Em uma foto divulgada em mídia social chinesa, Gong, ao centro, é descrito como um usuário de internet preso por usar VPN na província de Fujian, em 7 de julho de 2024 – Reprodução/Weibo. Estimativas não oficiais indicam cerca de 30 milhões de usuários de VPN na China. Elas são usadas principalmente para streaming de vídeo e jogos. Algumas marcas prometem acesso à Netflix, por exemplo, embora nem sempre cumpram.

As mais renomadas, consideradas as melhores em algumas listas da internet, incluem Astrill, sediada nas Ilhas Seychelles, ExpressVPN, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, mas operando em Hong Kong, e NordVPN, sediada na Lituânia.

Elas também são um meio de acessar aplicativos populares de gigantes americanos como Meta, como o Instagram, e Alphabet, como o Google Search. Em uma versão mais controlada, a Microsoft opera na China sem a necessidade de VPN, com ferramentas como o Bing Search.

A situação até então é relativamente estável, em parte porque as plataformas chinesas de tecnologia superaram as concorrentes americanas. O maior ponto de atrito é com o jornalismo, principalmente em inglês.

Muitos veículos de comunicação de países emergentes, como a Folha, são acessíveis na China sem o uso de VPN. No entanto, outros como o The New York Times e a BBC não são. A facilidade de disseminação permitida torna menos incômodo o ato de ligar e desligar a VPN, tornando-se uma prática comum no dia a dia.

Cerca de um mês e meio atrás, um evento repercutiu nas redes sociais como o Weibo. Mídias regionais reportaram a “punição administrativa” de um usuário em Ningde, província de Fujian, por acessar redes sociais e sites estrangeiros com “software para burlar o muro” digital que impede o acesso.

Gong, identificado apenas pelo sobrenome, foi detido e confessou, mas não foi especificada a penalidade ou se incluiria tempo de prisão. Relatos iniciais sugeriam que ele poderia ser multado em 15 mil yuans (aproximadamente R$ 12 mil).

Publicações chinesas documentaram punições similares no final de 2022, durante os protestos contra a política de Covid Zero, mas foram limitadas a “avisos”. Existiram multas superiores às aplicadas a Gong, mas destinadas a empresários que lançaram VPNs locais sem permissão.

A notícia de Fujian, rapidamente removida dos sites e jornais nacionais, permanece disponível no Weibo, incluindo fotos. Há comentários que sugerem que o caso envolvia apenas pornografia ou que o jornalista Hu Xijin, figura conhecida e frequentemente mencionada na mídia social chinesa, sempre cita sites estrangeiros e utiliza VPN.

Outros comentários menos críticos questionam a relevância do caso, ocorrido há quatro anos, em 2020. De qualquer forma, o incidente e a publicidade resultante — e a continuidade desta nas redes sociais — servem para reavivar o medo relacionado ao uso de VPN na China.

Esse temor é amplificado por outro fator: a experiência dos usuários frequentes de VPN no país. Em algumas ocasiões, como nas últimas semanas, a conexão se torna lenta e instável. Conforme a GreatFire, entidade que monitora a internet chinesa com apoio de Washington, nos últimos dois meses serviços como Astril e ExpressVPN apresentaram redução de velocidade.

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