Brasil suspende vistos temporários para trabalhadores da BYD após denúncias de tráfico de pessoas
Ministério da Justiça ameaça revogar permissões caso irregularidades sejam confirmadas; contratada Jinjiang Group nega acusações
O governo brasileiro anunciou, nesta sexta-feira (27), a suspensão da emissão de vistos temporários para trabalhadores da fabricante chinesa de veículos elétricos BYD, após denúncias de tráfico de pessoas e condições análogas à escravidão em um canteiro de obras da empresa na Bahia.
A medida surge após fiscais do trabalho identificarem 163 trabalhadores chineses que teriam sido trazidos ao Brasil de forma irregular e submetidos a condições degradantes no canteiro de obras da fábrica em Camaçari, no estado da Bahia. Os trabalhadores estavam sob responsabilidade da empresa Jinjiang Group, que nega as acusações e atribui os problemas a mal-entendidos na tradução.
Investimento bilionário e impacto econômico
A fábrica da BYD representa um investimento de US$ 620 milhões e simboliza o fortalecimento das relações econômicas entre Brasil e China. O complexo industrial tem previsão para iniciar a produção no início de 2025, com uma capacidade anual estimada de 150 mil veículos elétricos.
O Brasil é atualmente o maior mercado internacional da BYD, com quase 20% das vendas globais fora da China concentradas no país nos primeiros 11 meses de 2024.
Ministério da Justiça pode revogar vistos
O Ministério da Justiça afirmou que, caso as irregularidades sejam confirmadas, os vistos temporários dos trabalhadores chineses serão revogados. O pedido de suspensão dos vistos foi encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores em 20 de dezembro, antes mesmo da divulgação oficial das denúncias.
O ministério também notificou a Embaixada do Brasil em Pequim para que a suspensão fosse imediatamente implementada.
Negativas e posicionamentos
Em uma postagem nas redes sociais, posteriormente compartilhada por um porta-voz da BYD, a Jinjiang Group negou as acusações, afirmando que os trabalhadores não estavam em situação análoga à escravidão e que houve equívocos na interpretação das condições de trabalho.
Ainda assim, tanto a BYD quanto a Jinjiang Group concordaram em abrigar os 163 trabalhadores em hotéis até que um acordo para o encerramento de seus contratos seja firmado, conforme comunicado do Ministério Público do Trabalho.
Repercussões e próximos passos
As denúncias representam um impacto significativo não apenas para a imagem da BYD, mas também para as relações comerciais sino-brasileiras. A fábrica da Bahia é vista como um marco para a expansão da fabricante chinesa no Brasil, mas as investigações devem determinar o futuro do empreendimento no país.
Texto traduzido e adaptado de Reuters e revisado pela nossa redação.