Venezuela limita diplomatas europeus e provoca comparações com tempos stalinistas

A decisão do governo de Nicolás Maduro de restringir o número de diplomatas de França, Itália e Holanda em suas representações na Venezuela gerou duras críticas e comparações históricas. A medida, que limita a três diplomatas a presença de cada uma dessas nações europeias no país, foi justificada pelo governo venezuelano como uma resposta ao “comportamento hostil” desses países, que questionaram a legitimidade da reeleição de Maduro.

O ex-embaixador venezuelano Milos Alcalay classificou a decisão como uma demonstração de isolamento diplomático semelhante à repressão da era stalinista, quando deslocamentos de representantes internacionais eram rigidamente controlados. “É uma inépcia, porque prejudica a própria Venezuela. Quem mais vai sofrer são os venezuelanos no exterior, que enfrentarão ainda mais dificuldades com a reciprocidade dessas medidas”, disse Alcalay, referindo-se aos cerca de 8 milhões de venezuelanos que vivem fora do país.

Controle rígido e críticas europeias

Além da redução no número de diplomatas, o regime impôs restrições geográficas: qualquer deslocamento além de 40 quilômetros da Praça Bolívar, em Caracas, exige autorização prévia do Ministério das Relações Exteriores. A União Europeia lamentou a decisão e pediu que ela fosse revogada. A França, por sua vez, indicou que tomará “todas as medidas recíprocas necessárias”. A Holanda, em resposta, determinou a redução do número de diplomatas venezuelanos credenciados em Haia, enquanto a Itália convocou o encarregado de negócios venezuelano em Roma para protestar.

Alcalay apontou que a medida pode ser enquadrada como uma violação do Acordo de Viena sobre Relações Diplomáticas. “Impor limitações unilaterais desse tipo é negar os princípios básicos da diplomacia. Nenhum país aceitará que a Venezuela dite suas políticas externas”, afirmou.

Impactos econômicos e isolamento crescente

As implicações das restrições vão além da esfera diplomática. Alcalay destacou que, em um mundo globalizado, medidas como essa prejudicam não apenas as relações políticas, mas também as econômicas e sociais. A Holanda, por exemplo, mantém sua representação diplomática em Curaçao, um ponto estratégico que conecta a Venezuela à Europa. Essa rota se tornará ainda mais importante diante do isolamento crescente, já que várias linhas aéreas europeias interromperam operações no país.

Alcalay argumenta que, ao romper ou dificultar relações diplomáticas, o governo Maduro também isola aliados potenciais dentro desses países. “Grupos políticos que poderiam simpatizar com o regime venezuelano também se verão distantes, minando qualquer apoio externo que ainda reste a Maduro”, explicou.

Contexto eleitoral e tensões internacionais

A decisão ocorre em um momento de forte contestação internacional à reeleição de Nicolás Maduro. Declarado vencedor com 52% dos votos, o presidente socialista foi empossado para um terceiro mandato, apesar de denúncias de fraude e a ausência da publicação das atas eleitorais, obrigatória por lei. A União Europeia, o G7, os Estados Unidos e diversos países vizinhos se recusaram a reconhecer o resultado.

Para Alcalay, restringir a atividade diplomática demonstra a intransigência do regime. “Países que discordam ainda mantêm canais diplomáticos, porque é por meio deles que se constroem soluções pacíficas. Isolamento é sinônimo de retrocesso”, concluiu.

Episódio em Oslo e escalada de tensões

Enquanto isso, na Noruega, a embaixada venezuelana foi alvo de invasão, roubo e vandalismo. O governo venezuelano classificou os responsáveis como “fascistas” e pediu às autoridades norueguesas que investigassem o ataque. A diretora do Serviço de Segurança Interna da Noruega, Line Nyvoll Nygaard, confirmou a abertura de uma investigação conjunta com a polícia de Oslo.

O episódio é mais um exemplo das tensões crescentes enfrentadas pela diplomacia venezuelana. Para críticos, como Alcalay, o isolamento diplomático e as medidas restritivas são sintomas de um regime cada vez mais fechado ao diálogo, cujas consequências serão sentidas não apenas pelo governo, mas principalmente pelo povo venezuelano.

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