Nos últimos anos, enquanto a inteligência artificial monopolizava as atenções do público e da comunidade científica, outra revolução tecnológica vinha se desenvolvendo discretamente: a computação quântica. Com potencial para transformar a economia global e redefinir a segurança nacional, essa nova fronteira da tecnologia já movimenta bilhões de dólares em investimentos e gera uma corrida entre as grandes potências mundiais.
O Que é Computação Quântica?
A computação quântica é um avanço na forma como os computadores processam informações. Enquanto os computadores tradicionais utilizam bits binários (0 e 1) para realizar cálculos, os computadores quânticos operam com qubits, que podem existir simultaneamente nos estados 0 e 1 devido ao fenômeno da superposição. Isso significa que um processador quântico pode realizar cálculos complexos com uma velocidade inimaginável para os computadores convencionais.
Outro conceito-chave é o entrelaçamento quântico, que permite que qubits distantes influenciem uns aos outros instantaneamente. Essa característica pode ser usada para desenvolver sistemas de comunicação altamente seguros e novas formas de processamento de dados.
A Disputa Global pela Liderança Quântica
A corrida para dominar a computação quântica tem envolvido governos e empresas de tecnologia em investimentos massivos. Desde o final da década de 2010, os Estados Unidos, China e outros países avançados têm ampliado suas iniciativas na área. Estima-se que mais de 40 bilhões de dólares já tenham sido investidos mundialmente no desenvolvimento de tecnologias quânticas.
A China tem se destacado na pesquisa e aplicação da tecnologia, alocando cerca de 15,3 bilhões de dólares em cinco anos para impulsionar a computação e as comunicações quânticas. Em 2016, Pequim tornou o desenvolvimento quântico uma prioridade nacional, criando centros de pesquisa de ponta.
Os Estados Unidos, por sua vez, estabeleceram o National Quantum Initiative Act em 2018, garantindo investimentos governamentais estratégicos no setor. O país também tem fortalecido parcerias internacionais, como o Quantum Development Group, lançado em 2024 para coordenar esforços globais na área. Além disso, alianças estratégicas como AUKUS (Austrália, Reino Unido e EUA) e o Quad (Austrália, Índia, Japão e EUA) têm incluído discussões sobre o avanço da tecnologia quântica.
Impactos na Segurança e na Economia
Embora grande parte do debate sobre computação quântica se concentre na segurança cibernética, o impacto da tecnologia vai muito além. Uma das maiores preocupações é que, quando suficientemente avançada, a computação quântica pode quebrar os sistemas atuais de criptografia, expondo redes bancárias, informações governamentais e dados pessoais. Por isso, países como os EUA já investem no desenvolvimento da criptografia resistente a ataques quânticos.
Além da segurança, a tecnologia pode revolucionar setores como:
- Farmacêutico: possibilitando a simulação precisa de moléculas e acelerando a descoberta de novos medicamentos.
- Energia: ajudando a desenvolver catalisadores mais eficientes para a produção de fertilizantes e novas formas de armazenamento de energia, como baterias aprimoradas.
- Indústria química e materiais: permitindo a criação de ligas metálicas mais resistentes e componentes eletrônicos mais eficientes.
- Logística e otimização: melhorando cadeias de suprimentos e sistemas de transporte por meio de cálculos altamente eficientes.
Desafios para o Futuro
Apesar dos avanços, a computação quântica ainda enfrenta desafios técnicos significativos. Um dos principais obstáculos é a estabilidade dos qubits, que são extremamente sensíveis a variações no ambiente, como temperatura e vibrações, o que pode gerar erros nos cálculos. Para superar esse problema, pesquisadores trabalham no desenvolvimento de métodos para correção de erros e na criação de chips quânticos mais robustos.
Empresas como Google, IBM e Amazon lideram a pesquisa e o desenvolvimento da tecnologia. Em 2024, o Google anunciou o processador quântico Willow, capaz de realizar em minutos cálculos que levariam bilhões de anos para um supercomputador convencional. A IBM e outras gigantes do setor também estabeleceram roteiros para o desenvolvimento de computadores quânticos de grande escala.
O Papel das Potências Tecnológicas
A corrida pela supremacia quântica não será vencida apenas pelo país ou empresa que construir o processador mais poderoso. O sucesso dessa revolução depende de uma colaboração global entre governos, universidades e o setor privado. Além disso, a formação de uma cadeia de suprimentos confiável para os componentes necessários à fabricação desses computadores é essencial.
Os EUA já começaram a implementar políticas para atrair talentos estrangeiros especializados e fortalecer sua infraestrutura quântica. A União Europeia e outros aliados também têm investido em centros de pesquisa e desenvolvimento. No entanto, se os países ocidentais não intensificarem seus esforços, correm o risco de perder o domínio da tecnologia para a China e outras nações que investem pesadamente na área.
Conclusão
A computação quântica representa uma das maiores oportunidades – e desafios – tecnológicos do século XXI. Seu impacto pode ser comparável ao da inteligência artificial e da revolução digital, redefinindo indústrias, impulsionando a inovação científica e remodelando o equilíbrio geopolítico global.
Se bem gerenciada, essa revolução pode gerar benefícios imensuráveis para a sociedade, trazendo avanços científicos e melhorias econômicas. No entanto, sem regulamentação e planejamento adequado, os riscos associados à tecnologia – como o uso indevido para espionagem e ciberataques – podem ameaçar a segurança global.
A corrida quântica já começou. Quem liderará essa nova era da computação?
—
Artigo adaptado de documento publicado no portal Foreign Affairs.