Como os Bastidores e a Diplomacia dos EUA Evitaram uma Guerra Total entre Índia e Paquistão
Um Alívio Tenso: Cessar-Fogo Anunciado Após Escalada Militar
Em um momento dramático, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nas redes sociais no sábado (10) que Índia e Paquistão concordaram com um “cessar-fogo total e imediato”, encerrando quatro dias de intensos confrontos armados. No entanto, horas após o anúncio, os dois países trocaram acusações de novas violações, evidenciando a fragilidade do acordo.
O conflito foi desencadeado por um ataque militante que matou 26 turistas na Caxemira administrada pela Índia, levando Nova Délhi a realizar ataques aéreos em território paquistanês. O Paquistão retaliou, e os confrontos se intensificaram com trocas de artilharia, combates aéreos e até alegações de ataques com mísseis contra bases militares.
A Intervenção Tardia, Mas Decisiva dos EUA
Nos bastidores, diplomatas norte-americanos e mediadores de países como Reino Unido e Arábia Saudita atuaram com urgência para evitar um conflito em larga escala entre as potências nucleares.
O ponto de virada, segundo especialistas, foi a ligação do Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ao chefe do Exército do Paquistão, Asim Munir, em 9 de maio. “Essa ligação pode ter sido o momento crucial”, avalia Tanvi Madan, pesquisadora do Brookings Institution.
Apesar do papel central dos EUA, o vice-presidente americano JD Vance declarou anteriormente que o conflito era “basicamente um problema que não é nosso”. Somente quando a escalada se agravou, Washington decidiu agir de forma mais direta.
Estratégias Paralelas: Três Trilhas Diplomáticas
Diplomatas indianos identificam três frentes simultâneas que contribuíram para o cessar-fogo:
- Pressão direta dos EUA e do Reino Unido sobre os dois governos.
- Mediação saudita, com o vice-ministro de Relações Exteriores visitando as capitais indiana e paquistanesa.
- Canal direto entre os conselheiros de segurança nacional da Índia e do Paquistão, que manteve o diálogo mesmo durante os confrontos.
Esse conjunto de ações orquestradas possibilitou um desfecho rápido, ainda que instável, para o impasse.
A Sombra Nuclear e o Papel Vital dos EUA
Durante a escalada, o Paquistão enviou sinais ambíguos, retaliando militarmente enquanto anunciava uma reunião da Autoridade de Comando Nacional (NCA), responsável pelas decisões sobre o arsenal nuclear. A ação foi interpretada como um lembrete das consequências catastróficas de uma guerra total.
Para Ashley J. Tellis, analista do Carnegie Endowment for International Peace, “os EUA foram indispensáveis. O resultado não teria sido possível sem o esforço do secretário Rubio”.
O relacionamento pessoal de Narendra Modi com Trump e os interesses econômicos e estratégicos dos EUA na região deram à Casa Branca influência para pressionar ambos os lados.
Um Acordo Frágil e Sem Garantias
Apesar da comemoração pública no Paquistão e da esperança cautelosa na Caxemira, analistas alertam que o cessar-fogo pode não durar. Michael Kugelman, especialista em política externa, observa que o acordo foi costurado rapidamente, sem garantias robustas.
Além disso, há indícios de que o acordo foi costurado principalmente por oficiais militares da Índia e do Paquistão, e não por mediação direta dos EUA, como sugerido pela Casa Branca.
Conclusão: A Diplomacia Silenciosa Ainda é Vital
Mesmo em um cenário geopolítico cada vez mais fragmentado, a crise mostra que os EUA seguem desempenhando um papel essencial — embora complexo — na contenção de conflitos entre potências nucleares. O episódio também serve como alerta: a paz na região continua frágil, e acordos rápidos sem base sólida podem não resistir à próxima provocação.