Mutirão oftalmológico na Paraíba: 29 pacientes têm complicações e sete passarão por cirurgia

Um mutirão de procedimentos oftalmológicos realizado no Hospital de Clínicas de Campina Grande, no Agreste da Paraíba, se transformou em caso de saúde pública. Dos 64 pacientes atendidos na última quinta-feira (15), 29 apresentaram complicações, sendo que nove tiveram quadros considerados graves. Destes, sete passarão por cirurgia de urgência em um hospital particular de João Pessoa, contratado pela Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba (SES-PB).
Segundo o secretário de saúde da Paraíba, Ari Reis, os pacientes graves internados no Hospital Metropolitano de Santa Rita estão sendo monitorados e apresentam infecções intraoculares. Apesar da gravidade dos quadros oculares, todos estão conscientes e em leitos de enfermaria. Dois dos pacientes mais graves, internados em Campina Grande, já receberam alta após tratamento com antibióticos e raspagem da infecção ocular.
Os pacientes atendidos no Hospital HELP, um hospital filantrópico em Campina Grande, também receberam alta e seguem em tratamento ambulatorial. A SES-PB deve divulgar ainda hoje (21) um boletim atualizado com o número total de altas e o estado de saúde dos pacientes.
Relatos de perda de visão e medicamentos vencidos
Entre os casos mais graves está o da pedagoga Errta Rianny Rodrigues Mendes, de 43 anos, que perdeu completamente a visão após o procedimento e precisou passar por nova cirurgia. Ela sofre de miopia grave, baixa visão e glaucoma, e realizava tratamento garantido por decisão judicial. Mesmo após a nova cirurgia, relata dores e crises de ansiedade.
Outra paciente, Anita Terina da Costa, de 89 anos, também perdeu a visão do olho esquerdo. Segundo familiares, ela vinha sendo tratada com aplicações mensais que apresentavam bons resultados, até o mutirão. A idosa está em casa, mas deprimida e com apenas 2% de chance de recuperação da visão, conforme avaliação médica.
O filho de outro paciente, morador de Picuí, relatou que o pai ficou cego de um olho após o mutirão. O homem vinha sendo tratado com aplicações para retinopatia diabética e, após a aplicação feita durante o evento, apresentou forte dor, irritação ocular e, por fim, perdeu a visão. A família confirmou que o procedimento realizado foi diferente dos anteriores e que o paciente recebeu duas aplicações, em vez de uma.
Uso de medicamentos vencidos é confirmado pela SES-PB
A SES-PB confirmou que pelo menos seis frascos de medicamentos utilizados no mutirão estavam vencidos e abertos. A responsabilidade pelos profissionais e insumos utilizados é da Fundação Rubens Dutra Segundo, contratada para a realização dos procedimentos. O contrato com a fundação foi rompido, e a SES instaurou processos administrativos, éticos e criminais para apurar o caso.
A Fundação Rubens Dutra afirmou que está prestando assistência aos pacientes desde o último sábado (17) e que ainda apura se os medicamentos vencidos foram, de fato, os causadores das reações adversas.
Investigações em andamento
O caso já é investigado pelo Ministério Público da Paraíba (MPPB), que solicitou da SES-PB informações detalhadas sobre o mutirão, incluindo lista de pacientes, procedimentos realizados, profissionais envolvidos e detalhes do contrato com a fundação. O Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) também acompanha o caso e abriu sindicância para apurar responsabilidades.
Até o momento, não foram divulgados detalhes sobre os medicamentos utilizados ou os tipos específicos de procedimentos realizados no mutirão.
A SES-PB garantiu acompanhamento médico contínuo às vítimas, e novas atualizações devem ser divulgadas ainda hoje.