Teste de Sangue Detecta DNA de Tumores Até Três Anos Antes do Diagnóstico de Câncer
A partir de 20 de junho de 2025, pesquisadores da Universidade Johns Hopkins publicaram um estudo inovador na revista Cancer Discovery, revelando que fragmentos de DNA liberados por tumores, conhecidos como DNA tumoral circulante (ctDNA), podem ser detectados no sangue até 3,5 anos antes do diagnóstico clínico de câncer. Esse avanço, destacado pela Science News, sugere que testes de sangue altamente sensíveis podem transformar a triagem precoce do câncer, permitindo intervenções antes que sintomas ou sinais sejam visíveis.
Como Funciona o Teste?
Tumores, mesmo em estágios iniciais, liberam pequenos fragmentos de DNA no sangue durante a morte celular. Esses fragmentos, chamados ctDNA, contêm mutações genéticas específicas do tumor, distinguindo-os do DNA normal. O estudo utilizou técnicas de sequenciamento de alta precisão para identificar essas mutações em amostras de plasma. A abordagem, chamada teste de detecção precoce multicâncer (MCED), analisa padrões genéticos para detectar a presença de câncer e, potencialmente, sua origem.
Resultados do Estudo
Os pesquisadores analisaram amostras de plasma do estudo Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC), que coletou sangue de milhares de pessoas para avaliar riscos cardiovasculares. Entre 52 participantes, 26 foram diagnosticados com câncer dentro de seis meses após a coleta, e 26 não tinham câncer. O estudo revelou:
- Detecção Precoce: Oito participantes tiveram resultados positivos no teste MCED, todos diagnosticados com câncer em até quatro meses após a coleta. Em seis desses casos, amostras coletadas 3,1 a 3,5 anos antes do diagnóstico também foram analisadas, e quatro mostraram mutações tumorais, indicando que o câncer era detectável anos antes.
- Desafios Técnicos: As amostras, com cerca de 40 anos, continham apenas uma colher de chá de plasma e não foram armazenadas para preservar DNA. Mesmo assim, a detecção foi possível, sugerindo que amostras frescas ou maiores poderiam ser ainda mais sensíveis.
- Impacto Potencial: “Detectar câncer anos antes do diagnóstico clínico pode mudar drasticamente os resultados para os pacientes”, disse Yuxuan Wang, oncologista e autora principal do estudo. Um diagnóstico meses ou anos mais cedo pode oferecer mais opções de tratamento, como cirurgias ou terapias menos invasivas, potencialmente salvando vidas.
Por Que Isso É Importante?
O câncer é a segunda principal causa de morte global, com cerca de 10 milhões de óbitos em 2024 (OMS). A detecção precoce é crucial, pois tumores em estágios iniciais (I ou II) têm taxas de sobrevida de até 91%, contra 26% em estágios avançados. Atualmente, apenas alguns cânceres, como mama, cólon e próstata, possuem triagens amplamente recomendadas (mamografia, colonoscopia, PSA). Para outros, como pâncreas e ovário, a falta de métodos eficazes resulta em diagnósticos tardios. Testes de sangue baseados em ctDNA poderiam preencher essa lacuna, oferecendo:
- Triagem Não Invasiva: Um simples exame de sangue, em vez de biópsias ou exames de imagem caros.
- Detecção Multicâncer: Capacidade de identificar vários tipos de câncer, incluindo os mais letais, como pancreático (50% de sensibilidade em estágio I) e ovariano (60%).
- Intervenção Precoce: Possibilidade de tratar tumores antes que se espalhem, aumentando as chances de cura.
Limitações e Desafios
Apesar do potencial, o estudo enfrenta obstáculos para aplicação clínica:
- Sensibilidade Limitada: O teste MCED detectou apenas 16% dos cânceres em estágio I, melhorando em estágios avançados, o que limita sua eficácia para triagem inicial. Tumores pequenos liberam menos ctDNA, dificultando a detecção.
- Validação Necessária: William Grady, do Fred Hutchinson Cancer Center, destacou que os resultados precisam ser confirmados em populações maiores. A equipe de Wang está conduzindo estudos adicionais.
- Falsos Positivos e Negativos: Testes como o Galleri (GRAIL) mostraram falsos positivos, exigindo exames complementares, e falsos negativos podem dar falsa segurança. Posts no X, como de @DrAdamBat, sugerem que o Galleri teve apenas 16% de sensibilidade para estágio I no estudo da NHS, indicando desafios.
- Custo e Acessibilidade: Testes de ctDNA, como Signatera e GRAIL, são caros (US$ 1.000 ou mais nos EUA), e sua adoção em sistemas públicos, como o SUS, exigiria redução de custos.
- Implicações Clínicas: Detectar ctDNA anos antes não garante que tratamentos atuais possam prevenir o câncer. Estudos futuros devem determinar o que fazer após um resultado positivo, como monitoramento ou terapias preventivas.
Contexto do Campo
A pesquisa de ctDNA está em alta, com avanços significativos:
- Signatera (Natera): Detecta recidiva em câncer colorretal e de mama com 95% de precisão, usado após cirurgias para monitorar doença residual mínima (MRD).
- Galleri (GRAIL): Triagem para mais de 50 cânceres, mas com sensibilidade limitada em estágios iniciais, conforme estudo no The Lancet (2020). O ensaio Galleri no NHS está em andamento.
- GEMINI (Johns Hopkins): Combina sequenciamento genômico e aprendizado de máquina, detectando mutações em pulmão e fígado anos antes, com testes em 365 pessoas.
- PanSeer (Nature Communications, 2020): Detectou cinco cânceres (estômago, esôfago, cólon, pulmão, fígado) em 88% dos pacientes pós-diagnóstico, com 95% em assintomáticos até quatro anos antes.
Posts no X refletem entusiasmo, como @Bio_comunidad, que destacou um teste com 95% de precisão para 14 cânceres, e @improvethenews, chamando a descoberta de “revolucionária”. No entanto, ceticismo também aparece, com @DrAdamBat questionando a eficácia de triagens como o Galleri.
Futuro da Triagem de Câncer
A visão de longo prazo, segundo Wang, é tratar o câncer como uma condição crônica, gerenciada com monitoramento regular via testes de sangue. Grady imagina um futuro onde ctDNA positivo leva a terapias que eliminam pré-cânceres, como em Star Trek. No entanto, a tecnologia está a anos de uso rotineiro. A validação em ensaios clínicos amplos, redução de custos e definição de protocolos pós-detecção são cruciais. No Brasil, onde o câncer é a segunda causa de morte (INCA, 2024), a adoção dependerá de parcerias público-privadas e investimento em laboratórios especializados.
Fontes: Science News, Cancer Discovery, Nature Communications, Fox News, posts no Xweb:0,7,11,24post:3,5,6,7