Internacional

Como a China pode se beneficiar dos ataques dos EUA ao Irã

Enquanto os Estados Unidos intensificam sua intervenção militar no Oriente Médio, a China observa atentamente os desdobramentos, avaliando tanto os riscos econômicos quanto as novas possibilidades de fortalecimento diplomático. A escalada no conflito entre Israel e Irã, após os bombardeios americanos a instalações nucleares iranianas, pode acabar favorecendo os interesses estratégicos de Pequim.

China critica ação dos EUA e reforça discurso pró-paz

Após os ataques norte-americanos, o Ministério das Relações Exteriores da China classificou a ofensiva como uma séria violação da Carta das Nações Unidas. O porta-voz Guo Jiakun declarou que Pequim está pronta para trabalhar com a comunidade internacional para restaurar a paz e a estabilidade no Oriente Médio. A posição reforça a narrativa chinesa de defensor do direito internacional e busca projetar uma imagem de potência responsável, em contraste com o papel dos EUA.

Preocupações econômicas: o risco do bloqueio do Estreito de Ormuz

A China teme que o Irã possa tentar fechar o Estreito de Ormuz, um dos pontos mais estratégicos para o transporte global de petróleo. Quase metade do petróleo importado por Pequim passa por essa rota. Um bloqueio aumentaria os preços globais de petróleo e gás, pressionando a inflação e afetando diretamente a economia chinesa. O governo chinês, portanto, tem interesse direto na contenção do conflito para evitar instabilidade no fornecimento energético.

Impacto nas relações sino-iranianas

O Irã é parceiro chave da Iniciativa do Cinturão e Rota, projeto chinês que visa integrar comércio e infraestrutura em dezenas de países. Com o aumento da pressão militar sobre Teerã, o regime iraniano pode se enfraquecer e se tornar um aliado menos eficaz para os planos de expansão econômica da China no Oriente Médio. Isso levanta preocupações em Pequim sobre a viabilidade de seus investimentos e projetos na região.

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Capital diplomático em crescimento

Especialistas apontam que a China poderá colher ganhos diplomáticos ao criticar a intervenção americana e se apresentar como mediadora do equilíbrio global. Essa estratégia reforça sua narrativa no Sul Global, onde Pequim já obteve destaque ao mediar, em 2023, a reaproximação entre Arábia Saudita e Irã. No entanto, nesta nova crise, a atuação chinesa permanece sobretudo no campo retórico, sem sinais de um envolvimento direto em negociações de paz.

Menor foco dos EUA na Ásia pode beneficiar Pequim

Com Washington cada vez mais envolvido no Oriente Médio, a China pode aproveitar o momento para reduzir a pressão internacional sobre sua atuação militar na Ásia. A recente mudança de rota de um porta-aviões americano, que deveria atracar no Vietnã e foi redirecionado ao Oriente Médio, é exemplo do deslocamento das atenções dos EUA. Esse cenário pode dar a Pequim mais margem de manobra em áreas como o Mar do Sul da China e na questão de Taiwan.

Conclusão

Oportunidades: fortalecimento da imagem de potência pacificadora, ampliação do capital diplomático e maior liberdade estratégica na Ásia.

Riscos: impacto no fornecimento de energia, enfraquecimento das parcerias no Oriente Médio e aumento das tensões regionais.

Com os EUA mais envolvidos no Oriente Médio, a China segue atenta aos desdobramentos e tenta transformar a crise em oportunidade para avançar seus interesses globais, mantendo-se, por ora, fora do campo direto de conflito.

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Traduzido e adaptado de DW.

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