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Inadimplência no Fies atinge 60% e acende alerta no governo

O retrato da dívida estudantil no Brasil

Um dado alarmante expõe a dimensão da crise no ensino superior brasileiro: seis em cada dez estudantes que contrataram o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) estão com as parcelas do pagamento em atraso. O levantamento, divulgado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), revela que a taxa de inadimplência no principal programa de crédito universitário do país atingiu a marca de 60%, acendendo um alerta sobre o futuro do programa e a saúde financeira de milhões de brasileiros.

O Fies foi criado com o objetivo de democratizar o acesso à universidade, permitindo que estudantes de baixa renda financiassem seus cursos em instituições privadas. No entanto, a dificuldade de inserção no mercado de trabalho e os baixos salários iniciais transformaram o sonho do diploma em um pesadelo de endividamento para muitos.

Por que tantos estudantes não conseguem pagar?

A alta taxa de inadimplência não é resultado de um único fator, mas sim de uma combinação de desafios econômicos e estruturais que os recém-formados enfrentam ao deixar a universidade. Especialistas apontam para um conjunto de causas principais:

  • Desemprego e Informalidade: Muitos graduados não conseguem encontrar emprego em suas áreas de formação ou ingressam no mercado de trabalho em postos informais e com baixa remuneração.
  • Salários Incompatíveis: Mesmo para os que conseguem um emprego, o salário inicial muitas vezes não é suficiente para cobrir os custos de vida e ainda arcar com a parcela do financiamento.
  • Falta de Educação Financeira: Muitos estudantes assinam o contrato do Fies sem ter uma noção clara do tamanho da dívida que estão assumindo e do impacto que ela terá em seu orçamento futuro.
  • Crises Econômicas: A instabilidade econômica do país nos últimos anos agravou a situação, reduzindo as oportunidades de emprego e o poder de compra da população.

As consequências para os cofres públicos e para os estudantes

O problema da inadimplência tem um duplo impacto. Para o governo, representa um rombo bilionário nos cofres públicos, já que o Tesouro Nacional é o garantidor da maior parte dos contratos. A alta taxa de calote compromete a sustentabilidade do programa e sua capacidade de financiar novos estudantes no futuro.

Para o estudante, as consequências são severas. Ficar inadimplente com o Fies significa ter o nome negativado nos serviços de proteção ao crédito, o que dificulta a obtenção de qualquer tipo de crédito no mercado, como cartões, empréstimos ou financiamentos imobiliários. A dívida, que pode se arrastar por anos, se torna uma barreira para a construção da vida adulta.

O futuro do financiamento estudantil

Diante do cenário crítico, o governo federal tem lançado programas de renegociação de dívidas, como o “Desenrola Fies”, oferecendo descontos para quem deseja quitar o débito. No entanto, a eficácia dessas medidas é limitada se as causas estruturais do problema não forem enfrentadas.

O debate atual se concentra em como reformar o Fies para torná-lo mais sustentável e alinhado à realidade do mercado de trabalho brasileiro. As propostas incluem desde a criação de modelos de pagamento atrelados à renda do recém-formado até uma maior articulação entre as políticas de educação e as de geração de emprego, para garantir que o diploma universitário seja, de fato, um passaporte para um futuro melhor, e não para o endividamento.

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